segunda-feira, 20 de abril de 2009

Aos amantes do violão puro 2 - Julian Bream

Em entrevista feita na Itália: "Mr Bream, o senhor é alaudista ou violonista?" "Sou alaudista, violonista e violoncelista"; "O senhor gosta de estudar?" "Eu devo. Eu adoro. Amo estudar até mais que tocar". "Entre nós, porque o senhor não tem o título de Sir? Diga a verdade." "Posso não ser um Sir, entretanto sou um Commander, comandante da Ordem do Império Britânico. Ser um comandante de um império que não existe é uma sensação superior a qualquer outra. Inefável." Julian Bream

Considerando sua inquestionável hegemonia econômica, científica e literária, é surpreendente que a Grã-Bretanha não tenha construído, ao longo da história moderna, uma tradição musical de magnitude comparável. No final do século XIX, ela era chamada de "A Ilha sem Música"; apesar de ter uma vibrante atividade musical, a maior parte dos músicos de relevo no país era importada do continente. Com o fim da rica produção musical do período elisabetano, o último compositor britânico de primeiro escalão tinha sido Purcell. Tampouco produziu instrumentistas capazes de criar maiores reverberações. Apesar do violão ter sido por um período considerável um instrumento de moda na Inglaterra, Tarrega chegou a dizer que um bom violonista inglês era uma "contradição em termos", opinião compartilhada por Segovia. Bem, os espanhóis tiveram de engolir suas palavras, pois a figura dominante do violão no pós-guerra seria a do quintessencialmente britânico Julian Bream.

Se Segovia trouxe o violão à maturidade técnica e, na sua perspicaz construção de uma mitologia pessoal e guitarrística, conseguiu conquistar a aceitação do violão como um instrumento de concerto, Bream é responsável pelo amadurecimento musical do instrumento. Ao contrário dos violonistas da geração anterior, seu ponto de partida foi a aquisição de uma vasta cultura musical que moldasse sua concepção de violão; enquanto a geração de Segovia se bastava com o violão e seu fascínio intrínseco, servindo-se da música para mostrar as mágicas qualidades do instrumento, Bream é primordialmente interessado em fazer com que o violão seja parte ativa da vida musical como um todo, um veículo de música de alta qualidade e um ator respeitável na música de câmara. Visto por este viés, um britânico deixa de ser uma exceção, já que, depois da 2a Guerra, o país conseguiu criar uma estrutura para sua vida musical - tanto no campo de ensino quanto no campo empresarial e de logística - que praticamente não tem paralelo em nenhum outro país. Julian Bream é, no violão, o representante do levante da música britânica, que produziu algumas das melhores orquestras e escolas do mundo, vários compositores de primeiro escalão, uma posição de liderança no movimento de música antiga e solistas e regentes de fama mundial. Como conseqüência, um garoto de família modesta e de sotaque caipira conseguiu tornar-se um artista de refinamento sem paralelo, que trouxe o violão à esfera da alta cultura.

Julian Bream nasceu num subúrbio de Londres em 1933; seu pai era um artista gráfico que tocava jazz nas horas vagas. Teve uma infância austera, marcada pelos bombardeios da blitz na 2a guerra e pela penúria geral da década seguinte. Inicialmente ele também tocou jazz, com palheta, mas ao ouvir um disco de Segovia ele vislumbrou as possibilidades do violão clássico e nunca mais olhou para trás. Desde cedo ele percebeu que, para deixar sua marca com o violão, precisaria ampliar seu conhecimento musical, e estudou também piano e violoncelo, ao mesmo tempo em que tinha aulas de violão com o professor russo Boris Perrot. Foi como cellista que ele conseguiu uma bolsa para estudar no Royal College of Music, que, na época, ainda não tinha o curso de violão (que só seria criado nos anos 60). Sua estréia foi aos 14 anos em Cheltenham, num Programa que já mostrava um equilíbrio clássico e um entendimento musical que seriam constantes em toda sua carreira. Compare-se por exemplo uma gravação de Segovia etc.

PRELÚDIO Nº 3 E PRELÚDIO Nº 4 - VILLA LOBOS.

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