Violonista. Compositor.
Filho de Manuel Teixeira e Teresa Vieira, descendente de portugueses. Com o falecimento do pai em 1891, a mãe casou-se novamente, transferindo-se com a família para o Recife.
Na capital pernambucana, conheceu violeiros famosos como Inácio da Catingueira, Mané do Riachão, Gorgulino, Romano da Mãe d'Água, etc. Começou a trabalhar como aprendiz de ferreiro e posteriormente como operário, reservando sempre suas noites para participar no Mercado e Pátio de São Pedro das reuniões que ali faziam violeiros, cantadores e repentistas. Aprendeu a tocar violão com cantadores sertanejos como Bem-te-vi, Mandapolão, Manuel Cabeceira, o cego Sinfrônio, Fabião das Queimadas e Cirino Guajurema. Em 1904, transferiu-se para o Rio de Janeiro, indo residir com sua irmã Maria, que já se encontrava na cidade. Analfabeto, sem nunca ter freqüentado escola, possuía, no entanto, sólida cultura popular, que viria a se refletir no estabelecimento de sua personalidade artística. Empregou-se numa fundição, onde trabalhava exaustivamente, reservando sempre algumas horas noturnas para o estudo do violão. Nessa época, freqüentava diversas reuniões de música que se realizavam principalmente na Lapa, tornando-se conhecido como João Pernambuco, por estar sempre contando coisas e casos de sua terra. Passou então a residir numa pensão localizada na Rua do Riachuelo, onde veio a conhecer Donga e Pixinguinha (que ali residiam), Sátiro Bilhar, Catulo da Paixão Cearense e o escritor Afonso Arinos, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos primeiros intelectuais a pesquisar e promover a MPB em conferências e simpósios que costumava fazer reuniões musicais que ficaram célebres no Rio, mesmo apesar de o escritor ter residêcnia permanente em São Paulo. Em 1908, abandonou a profissão de ferreiro, empregando-se como calceteiro da Prefeitura. Manteve-se nesta profissão até o dia em que foi se apresentar na casa de Pinheiro Machado, que se tornou seu admirador e conseguiu-lhe um lugar de contínuo em um almoxarifado do Largo do Estácio. Em 1922, transferiu-se para o Pedagogium, onde trabalhou como servente até 1934. Neste ano, a convite de Villa-Lobos, transferiu-se para a Superintendência de Educação Musical e Artística (S.e.m.a), onde exerceu a função de contínuo.
Andou fazendo...
Possuidor de grande talento, logo tornou-se amigo de figuras importantes da música popular de seu tempo, como Quincas Laranjeiras, Sátiro Bilhar, Mário Álvares, Patrício Teixeira, Zé Cavaquinho, Veloso, etc. Freqüentava, com assiduidade os bailes carnavalescos da cidade e a Festa da Penha, tradicional encontro de músicos, realizada no Rio de Janeiro durante o mês de outubro. Já autor de choros, canções, toadas sertanejas, e profundo conhecedor de gêneros do populário nordestino, cantou para Catulo da Paixão Cearense algumas dessas cantigas, dentre as quais o coco "Engenho de Humaitá", que pouco tempo depois iria se transformar na célebre canção "Luar do sertão" e a toada "A cabocla de Caxangá". Muito ligado a Catulo, passaram a exibir-se em residências ilustres do Rio de Janeiro, como as de Afonso Arinos e Rui Barbosa. Por volta de 1912, realizou gravações como solista de violão para a Phoenix de Gustavo Figner, irmão de Fred Figner (proprietário da casa Edison). Organizou o Grupo do Caxangá, conjunto de inspiração nordestina, tanto no repertório como na indumentária, no qual cada integrante adotava para si um codinome sertanejo. Em sua primeira formação, o grupo reunia João Pernambuco (Guajurema), Caninha (Mané Riachão), Raul Palmieri, Jacó Palmieri (Zeca Lima), Pixinguinha (Chico Dunga), Henrique Manoel de Souza (Mané Francisco), Manoel da Costa (Zé Porteira), Osmundo Pinto (Inácio da Catingueira), Donga, Bonfíglio de Oliveira, Quincas Laranjeiras, Zé Fragoso, Lulu Cavaquinho, Nelson Alves, José Correia Mesquita, Vidraça e Borboleta. No carnaval de 1914, o Grupo do Caxangá percorreu os principais pontos da Avenida Rio Branco, e "Cabocla de Caxangá" tornou-se grande sucesso musical. Neste mesmo ano, Afonso Arinos, por sinal Tio do jurista e Ministro Afonso Arinos de Mello e Franco, Tio-avô do diplomata, escritor e acadêmico Afonso Arinos, filho, que organizava um ciclo de palestras sobre temas do folclore brasileiro a ser apresentado no Teatro Municipal de São Paulo, convidou-o a participar do evento ao lado de Otávio Lessa (violão), José Alves de Lima (bandolim) e Luís Pinto da Silva (cavaquinho). Com o título de "Lendas e tradições brasileiras", a apresentação fez grande sucesso, sendo reprisada posteriormente.
Em 1916, Pernambuco organizou a "Trupe sertaneja", com que se apresentou em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O Grupo do Caxangá continuou se apresentando e brilhando nos carnavais dos anos de 1917, 1918 e 1919. Pouco depois, Pixinguinha formou o conjunto Os Oito Batutas, e quase todo o Grupo do Caxangá foi requisitado, desfazendo-se. João Pernambuco não participou da primeira formação. Nessa época, passou a lecionar violão, tal como Quincas Laranjeiras, na Casa Cavaquinho de Ouro. A pedido de Arnaldo Guinle, passou a integrar Os Oito Batutas, que seguiriam em turnê pelo Nordeste, para que este recolhesse material folclórico para uma antologia que Guinle pretendia publicar. Realizaram, então, uma apresentação de despedida para jornalistas do Rio de Janeiro, na sede da A.B.I. Apresentaram-se, ainda, em São Paulo antes de seguir para o Nordeste. No repertório do grupo constavam cantos, toadas, lundus, choros, de sua autoria, de Pixinguinha, Donga, etc.
Em 1920, constituem-se em uma das atrações da opereta sertaneja "Flor tapuia", de Alberto Deodato e Danton Vampré, apresentada no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Em 1921, recebem convite de Arnaldo Guinle para uma nova excursão a Salvador, com apresentação no Cine-Teatro Olímpia e em Recife, no Cine-Teatro Moderno. De volta ao Rio de Janeiro, os Oito Batutas apresentaram-se no Cine-Teatro América, na revista "O que o rei não viu", musicada por Pixinguinha e China. O grupo fez ainda várias apresentações e, encerrando a temporada de 1921, exibiu-se no Teatro Lírico e no Cabaré Assírio, onde o violonista encerrou sua participação no grupo. Em 1924, Catulo Cearense incluiu em seu livro "Mata iluminada", as letras de "Luar do sertão" e "Cabocla de Caxangá", sem fazer qualquer referência ao autor das melodias. Alguns historiadores acreditam que se tratava de temas do folclore musical nordestino, recolhidos por João Pernambuco. O episódio resultou posteriormente numa batalha judicial, que acabou por dar ganho de causa a João Pernambuco, que, passou a ter incluído seu nome ao lado do de Catulo.
Em 1926, fez suas primeiras gravações pela Odeon, registrando os maxixes "Mimoso" e "Lágrimas", de sua autoria e com o cavaquinista Nelson Alves, os choros "Magoado" e "Sons de carrilhão", também de sua autoria. No mesmo ano, o cantor Patrício Teixeira gravou também na Odeon a canção sertaneja "Jandaia" e a ambolada "Seu Coitinho pegue o boi!", de sua autoria, Ainda no mesmo ano, foi o patrono das provas de violão do concurso "O que é nosso" promovido no Rio de Janeiro pelo jornal "Correio da Manhã". Em 1929, teve gravadas por Stefana de Macedo as toadas "Vancê", parceria com E. Tourinho e "Siricóia" e os cocos "Tiá de Junqueira" e "Biro, biro, Iaiá" para as quais fez acompanhamento ao violão.
Em 1930, gravou uma série de cinco disco para a Columbia como solista de violão interpretando dez obras de sua autoria, os choros "Pó de mico", "Magoada"; "Reboliço"; "Recordando" e "Dengoso", os jongos "Sentindo" e "Interrogando", as valsas "Sonho de magia" e "Suspiro apaixonado" e o fox-trot "Rosa carioca". No mesmo ano, fez as melodias para a toada "Catirina" e as emboladas "Meu noivado", "Perigando" e "ABC",com versos do folclore que o cantor e instrumentista Jararaca gravou na Columbia com seu acompanhamento ao violão. Também no mesmo ano, a cantora Stefana de Macedo gravou a toada "Maneca dos Geraes", o coco "Sodade cabocla", parceria com E. Tourinho e o baião "Estrela d'alva", para as quais fez acompanhamentos ao violão. Ainda em 1930, o cantor Paraguassu gravou sua toada "Amô de caboco" e Januário de Oliveira as canções "A inveja matou Caim" e "Corrupião da lagoa", parcerias com Junquilho Lourival, sendo que para este último, também fez acompanhamentos ao violão.
Em 1947, compõe sua última obra, "Canção do violeiro", sobre versos de Castro Alves. Sua obra, extremamente rica e significativa, constituiu-se num dos pilares do repertório violonístico brasileiro. Segundo declaração de Heitor Villa-Lobos, "Bach não se envergonharia de assinar seus estudos". Em 1969, seu choro "Sons de carrilhões" foi gravado pelo violonista Antônio Rago na Chantecler. Em 1978, o violonista Turíbio Santos lançou o LP "Choros do Brasil", onde revive a obra do violonista e compositor, da qual destacam-se os choros "Sons de carrilhões", obra que integra o repertório de quase todos os violonistas brasileiros, "Graúna", "Dengoso", "Interrogando" e "Pó-de-mico". Em 1980, teve os tangos "Lágrima" e "Sentindo" e o choro "Brasileirinho" incluídos em show apresentado pelos violonistas Nicanor Teixeira e Sérgio de Pina. Em 1983, em comemoração ao centenário de nascimento do compositor, a Funarte lançou LP com a participação do pianista Antonio Adolfo e do grupo Nó em Pingo d'Água. Os arranjos, feitos especialmente para a ocasião, foram também editados pela Funarte. Em 1999, o violonista Leandro Carvalho lançou o CD"Descobrindo João Pernambuco", com gravações de sua obra. Em 2000, o violonista Caio Cesar lançou o CD "João Pernambuco" apenas com suas músicas, cujo lançamento foi efetuado com vários shows na cidade do Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi lançado por Baden Powell o CD "João Pernambuco e o sertão".
Escreveu e mandou pra frente...
A. B. C • A coivara de meu peito • A estrada do sertão (c/ Wilson W. Martins) • A inveja matou Caim • A voz da cascata • Ajueia Chiquinha • Amor de caboclo • Amorosa • Azulão • Batuque sertanejo • Biro-biro Iaiá • Brasileirinho • Canção do violeiro (c/ Castro Alves) • Canção gaúcha • Catirina • Ceci • Choro nº 1 • Choro nº 2 • Coco dendê • Coração, que mais queres? • Corrupião da lagoa • Cuscuz de sinhá Chica • Dengoso • Emboladas do norte • Engenho de Humaitá • Esperança • Estrela d'alva • Estudo nº1 • Estudo nº2 • Estudo nº3 • Feito agora • Graúna • Gritos d'alma • Interrogando • Já não sabe beijar-me? • Jandaia • Lágrima • Lamento • Longe de você (c/ Paulo Rosas) • Luar do sertão (c/ Catulo da Paixão Cearense) • Magoado • Mágoas de um cearense (c/ Junquilho Lourival) • Meu noivado • Mimoso • Mulatinho • Não vou lá • Noite de ventura • O marroeiro (c/ Catulo da Paixão Cearense) • Os olhos da sertaneja (c/ Alfredo Cândido) • Pagã • Pensando em Agostinha • Perigando • Pó-de-mico • Polca de bravura • Porque és assim • Pra você (c/ J. Paiva) • Preto e branco (c/ Fefeca) • Reboliço • Recordando minha terra • Recordando • Romance • Rosa carioca • Sabiá (c/ Pixinguinha) • Saudoso • Sempre-viva • Sentindo (c/ Lilinha Fernandes) • Sertanejo saudoso (c/ Catulo da Paixão Cearense) • Seu Coutinho, pegue o boi! • Siricóia • Sodade cabocla (c/ E. Tourinho) • Sonho de magia (c/ Heitor Catumbi) • Sonho divino • Sons de carrilhões • Suspiro apaixonado • Tiá de Junqueira • Valsa nº1 • Vancê (c/ E. Tourinho) • Vem cá, bebê (c/ Macedo)
Raphael Rabello - Jongo (João Pernambucano)
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