sábado, 31 de outubro de 2009

Violão Brasileiro - Canhoto da Paraíba

Entrada, saída...

Nasceu numa família de músicos, onde o avô, Joaquim Soares, era clarinetista, e seu pai, Antônio, tocava violão, convivendo assim desde criança com as serestas e saraus musicais que aconteciam em sua casa. Conheceu em sua infância diversos músicos de sua região natal, como o acordeonista Zé Costa, o saxofonista Manuel Marrocos, os violonistas Zé Micas e Luís Dantas, além do maestro Joaquim Leandro, regente da banda da cidade de Princesa Isabel. Foi com o maestro Joaquim Leandro que aprendeu os primeiros passos musicais. Exerceu a função de sacristão, encarregado de tocar o sino da igreja, o que fazia de maneira especial e que chamava a atenção de todos. Chegou a executar o frevo "Vassourinha" no sino da igreja. Recebeu do pai o seu próprio violão, tendo perdido o instrumento quando o dono de um bar o quebrou na cabeça de um freguês. Aos 16 anos, recebeu um segundo violão, iniciando então um aprendizado mais sistemático. Era convidado constantemente a animar festas, através do sistema de alto-falantes de sua cidade, a Voz de Princesa e Ibiapina, que reproduzia em praça pública um auditório de rádio. Solava choros e valsa, executando composições de Pixinguinha, Jacó do Bandolim e Ernesto Nazaré. Em 1998, sofreu uma esquemia cerebral e ficou com o lado esquerdo do corpo paralisado, o que o impediu de continuar tocando. Faleceu em sua casa, na região metropolitana do Recife, aos 82 anos de idade vítima de um enfarto.

Perambulou...

Sua carreira artística tomou um rumo mais intenso, quando, aos 16 anos, foi levado por frei Casanova para tentar um emprego na Rádio Clube de Recife. Na capital pernambucana, onde ficou conhecido como Chico Soares, manteve contato com artistas como Luperce Miranda, Sivuca, Tia Amélia do Jaboatão, Nelson Ferreira e outros, mas a saudade de casa não o deixou prosseguir com a experiência. Continuou a atuar em sua cidade natal. Em 1953, foi levado pelo deputado Nominando Diniz para João Pessoa, onde assinou contrato com a Rádio Tabajara, local em que atuou por cinco anos, tendo lá formado seu primeiro regional e acompanhado diversos artistas, inclusive aqueles oriundos do Rio de Janeiro. Casou-se nesse período. Em 1958, ficou viúvo e mudou-se para Recife, passando a trabalhar na Rádio Jornal do Comércio, tornando-se presença constante no programa "Quando os violões se encontram". Não podendo, entretanto, viver apenas da música, consegue emprego de assistente social no Sesi de Pernambuco. Segue tocando em diferentes lugares e angariando novos simpatizantes, como o bandolinista Rossini Ferreira e os violonistas Zé do Carmo e Dona Ceça. Em 1959, a convite de alguns músicos que eram seus admiradores, segue para o Rio de Janeiro. Viajou num velho jipe durante cinco dias. No Rio de Janeiro, apresentou-se em um sarau na casa de Jacó do Bandolim, onde estiveram presentes, entre outros Pixinguinha, Radamés Gnattali, Tia Amélia, Dilermano Reis e o ainda adolescente Paulinho da Viola. A apresentação de Canhoto da Paraíba foi tão apreciada, que Radamés Gnattali, ao ouvir a execução do choro "Lembrança que ficou", ficou tão entusiasmado que atirou para cima um copo de cerveja, manchando o teto da casa de Jacó do Bandolim, que, por sua vez, fez questão de preservar a mancha no teto como lembrança do memorável sarau. Chico Soares ainda fez apresentações em São Paulo e regressou ao Nordeste. Em 1968, lançou pela gravadora pernambucana Rozenblit o seu primeiro disco, "Único amor". Pouco depois fez um novo disco, gravado em casa com recursos de amigos e admiradores. Em 1971, Paulinho da Viola dedicou-lhe o choro "Abraçando Chico Soares". Em 1977, lançou pelo selo Marcus Pereira, o disco "Canhoto da Paraíba, o violão brasileiro tocado pelo avesso", onde interpreta diversas composições de sua autoria, como "Visitando o Recife", "Tua imagem", "Corrinha", feita em homenagem a uma de suas filhas, e "Lembrança que ficou", entre outras. No mesmo ano, realizou em companhia de Paulinho da Viola uma excursão pelo Brasil no Projeto Pixinguinha. Participou em seguida do Projeto Pixingão e do programa de Hermínio Bello de Carvalho, na TVE, em companhia da Camerata Carioca e do grupo Nó em Pingo D'água. Teve inúmeras composições gravadas pelo grupo Época de Ouro e pelo violonista Toquinho. Foi um dos fundadores do Clube do Choro de Recife. Em 1993, lançou o disco "Pisando em brasa", onde interpretou diversas composições de sua autoria como "Tá quentinho", "Reencontro com Paulinho", Lourdinha" e outras. O disco contou com as participações especiais de Paulinho da Viola e Raphael Rabello. Desenvolveu uma técnica especial de execução, aliado a um senso harmônico-melódico incomum. Suas influências sonoras incluem os ritmos regionais nordestinos, como o baião, o xote, o xem-nhem-nhem, o frevo, o xaxado e o cateretê, além de ritmos internacionalizados como a bossa nova. Em 2007, foi relançado em CD o LP "Único amor" lançado originalmente em 1968, pela gravadora pernambucana Rozenblit. Foi também lançada em CD sua entrvista ao programa "Ensaio" da TV Cultura.

Fez...

19 de março • Amigo Sena • Choro na madrugada • Com mais de mil • Cordão amigo • Glória do relâmpago • Ilha de Santo Aleixo • Lá vai Barreira • Lembrança que ficou • Lourdinha • Memórias de Sebastião Malta • Pisando em brasa • Reencontro com Paulinho • Revendo um amigo • Tá quentinho • Todo cuidado é pouco • Tua imagem • Valsa a Tozinho • Visitando o Recife.

Mostrou...

• Único amor (1968) Rozenblit LP
• Canhoto da Paraíba, o violão brasileiro tocado pelo avesso (1977), Marcus Pereira (LP)
• Pisando em brasa (1993) Caju Music LP
• Com mais de mil (1994) Marcus Pereira CD.

Documentário em vídeo.

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