quarta-feira, 20 de maio de 2009

Mário Quintana

oooÀs vezes a gente pensa que está dizendo bobagens e está fazendo poesia.

oooTodos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão…Eu passarinho!

ooo O que mais me comove em música
São estas notas soltas-- pobres notas únicas --
Que do teclado arranca o afinador de pianos.

oooQuem fica viúvo é o defunto... Por que este não casa mais.

oooHá noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer.

oooResposta a uma entrevista: - Qual o maior poeta brasileiro atual? - Deixa disso. Nenhum poeta é cavalo de corrida para ser obrigado a chegar em primeiro lugar.

oooCada pessoa pensa como pode ...

ooo Já que existe uma "semana inglesa" aos sábados à tarde, bem poderia haver uma "segunda brasileira de manhã" para a gente curar a ressaca do domingo...

oooAs sereias usam fecho ecler.

oooEssas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderes o braço e tocar no ombro do teu vizinho.

oooRezar é uma falta de fé: Nosso Senhor bem sabe o que está fazendo.

oooTenho pena da morte - cadela faminta - a que deixamos a carne doente e finalmente os ossos, miseráveis que somos... O resto é indevorável.

oooA gente deve apertar uma campainha com tanta delicadeza como se aperta o umbigo da dona da casa.

ooo Despertador é bom para a gente se virar para o outro lado e dormir de novo.

oooSe eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?

ooo- Por que você nunca se casou? - Por uma simples questão de estatística: há no mundo muito mais viúvas do que viúvos.

oooPor causa tua, quantas más ações deixei de cometer.

oooO que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.

oooO pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

Mário Miranda Quintana (1906/1994), gaúcho de Alegrete, era conhecido como "o poeta das coisas simples". Após a Revolução de 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro, retornando a Porto Alegre em 1936, ocasião em que foi trabalhar na Livraria do Globo, sob a direção de Érico Veríssimo. Traduziu obras de Proust, Voltaire, Virginia Woolf, Papini e Maupassant. Seus inúmeros livros foram reunidos em um único volume, intitulado Poesias (1962), tendo, depois dessa data, escrito Pé de Pilão, Batalhão das Letras e Apontamentos de História Sobrenatural, dentre outros.

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