sexta-feira, 22 de maio de 2009

Raimundo Fagner Cândido Lopes - Pequena Biografia

Inquieto, irreverente, imprevisível...

Podemos dizer que este é Raimundo Fagner Cândido Lopes. Cantor, compositor, instrumentista, ator, produtor. Cearense de Orós, Fagner nasceu em 13.10.1949. Caçula de cinco irmãos, filho de José Fares e Dona Francisca. Desde pequeno o menino Raimundo se interessava por música. Num concurso para cantores infantis em homenagem ao dia das mães, promovido pela Rádio Iracema de Fortaleza, Fagner tira o primeiro lugar, quando tinha apenas cinco anos. Mantê-lo longe do rádio a partir de então se tornou algo praticamente impossível. Em 1968, quando já tinha diversas músicas compostas, Fagner venceu o IV Festival de Música Popular do Ceará com Nada Sou, composição em parceria com Marcus Francisco. Em conjunto com Belchior, Rodger Rogério, Ednardo e Ricardo Bezerra, formou o que se chamou de Pessoal do Ceará. Em 1971, ingressou na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília, cidade onde morava uma de suas irmãs. Logo no primeiro ano desiste do curso, mas consegue facilmente a sua identidade: em 1971 inscreveu três músicas no Festival de Música Popular do Centro de Estudos Universitários de Brasília, obtendo o sexto lugar com Manera Frufru Manera (parceria comRicardo Bezerra), menção honrosa e prêmio de melhor intérprete com Cavalo Ferro (também parceria com Ricardo Bezerra) e o primeiro lugar com Mucuripe (parceria com Belchior).
A partir de então, Fagner consegue despertar a atenção da imprensa do sudeste, sendo suas canções exaustivamente executadas nos bares da capital do país.

Que venha o sucesso

Fagner se muda para o Rio de Janeiro ainda em 1971. No ano seguinte, Mucuripe é gravada por Elis Regina e estoura nas paradas de sucesso do país. No mesmo ano, ele grava a composição num dos lados do segundo compacto simples da série Disco de Bolso, iniciativa do Pasquim; no outro lado do compacto, está Caetano Veloso com A Volta da Asa Branca.
A música Cavalo Ferro é gravada em 1973 no disco Meu Corpo, Minha Embalagem, Tudo Gasto na Viagem, do Pessoal do Ceará, composto de Ednardo, Rodger Rogério, Teti e Cirino.
É em 1973 que Fagner grava o seu primeiro LP, MANERA FRUFRU MANERA, pela Philips. Nele está um dos seus maiores sucessos, a música Canteiros, poema de Cecília Meirelles musicado por Fagner. A música causou polêmica, vez que no disco não havia créditos para a poetisa, constando a autoria apenas de Raimundo Fagner. Após longa batalha na justiça, a família de Cecília Meirelles conseguiu retirar de circulação o disco. Canteiros tem como música incidental Hora do Almoço, de autoria de Belchior, e Águas de Março.
O compositor Fagner já demonstrava desde o primeiro disco a sua versatilidade, conseguindo reunir numa mesma composiçãoBelchior e Tom Jobim, de maneira homogênea, harmônica com o restante do disco. Nara Leão, Bruce Henry e Naná Vasconcelos aparecem no disco com participações especiais.
No piano, a maestria de Ivan Lins. A partir daí, a carreira levanta vôo definitivo. Convidado para compor parte da trilha sonora do filme Joana, A Francesa, de Carlos Diegues, Fagner agrada tanto que logo em seguida é convidado para ir à França a fim de trabalhar com o músico Pierre Barroux e com Naná Vasconcelos. Ele não hesita e abre mão inclusive do contrato com a Philips. A viagem faz com que conheça Pedro Soler e Pepe de La Matrona. Na volta para o Brasil, após algumas dificuldades, Fagner lança o AVE NOTURNA, pela Continental, onde predominam músicas de caráter pessimista. É o ano de 1975. A música FRACASSOS é uma das composições definitivas do LP e virá a ser gravada mais tarde por Cauby Peixoto, em parceria com o próprio Fagner. Outro destaque é uma versão um tanto triste de Riacho do Navio. Nela Fagner consegue mostrar o seu jeito próprio de cantar.
Em 1976, lança o Raimundo Fagner, agora pela gravadora CBS. Neste disco, vê-se momentos de puro rock (ABC), romantismo da melhor qualidade (Conflito, Asa Partida), além de música nordestina (Matinada).
Surpreende a gravação de Sinal Fechado, autoria de Paulinho da Viola. Com um estilo próprio, Fagner dá uma versão nova para uma música que já tinha sido gravada por alguns dos grandes nomes da MPB.
No ano seguinte surge o ORÓS, disco imprevisível, inusitado. Com a produção e arranjo de Hermeto Paschoal, nele pode-se encontrar músicas que dificilmente seriam tocadas na mídia. Apenas Cebola Cortada chega a ser executada nas rádios do país. Músicas como Epigrama n.9, Romanza e Orós, dificilmente cairiam no gosto do imediatismo das rádios.
Em 1978 Fagner lança o Quem Viver Chorará, dedicado por Fagner a Seu Fares e Dona Francisca, “com todo amor que tenho e terei”. É a partir deste disco que ele estoura de vez o mercado fonográfico.
Revelação, composição Clodo e Clésio é tocada exaustivamente nas rádios. Destacam-se também no disco a recriação para As Rosas Não Falam, além de Motivo, Jura Secreta e a participação de Alceu Valença em Punhal de Prata.

Vanguarda ou à frente de seu tempo ?

É por esta época que Fagner teve a oportunidade de criar e dirigir um projeto de grande importância para a MPB: o selo Epic, da CBS, destinado a lançar novos valores. É por este selo que foram lançados Amelinha, Zé Ramalho, Elba Ramalho, Robertinho de Recife, além de artistas como Petrucio Maia, Manassés, entre outros. É também pelo EPIC que é lançado o disco SORO, um encontro de poetas, músicos, compositores, cantores. Fagner consegue reunir num mesmo disco, entre solos instrumentais, declamações e interpretações, nomes a exemplo de Patativa do Assaré, Ferreira Gullar, Geraldo Azevedo, Fausto Nilo, Belchior, Nonato Luiz, Cirino, entre outros.

A crítica se rende. Já não era sem tempo !

Beleza é o título do disco de 1979. A música Noturno foi a abertura sonora da novela Coração Alado da tv Globo. No show para o lançamento do disco no Teatro João Caetano, no Rio, a paixão do público pelo artista se torna evidente no desvairado delírio de aplausos, assobios e frases apaixonadas.
Em 1980, é lançado o disco Raimundo Fagner que contém preciosidades, a exemplo da canção Vaca Estrela e Boi Fubá de Patativa do Assaré. No mesmo LP, músicas como Oh! My Love, música de John Lennon - morto naquele ano - e Yoko Onno, Canção Brasileira, Morena Penha, mostram a versatilidade que sempre foi uma das marcas da carreira de Fagner. A música Eternas Ondas é o grande hit do disco.
O disco de 1981 é o Traduzir-se, lançado no Brasil e na Espanha, com participações de Mercedes Sosa (na gravação definitiva de Años de Pablo Milanés), Manzanita, Joan Manuel Serrat e Camaron de La Isla. Um grande disco. Uma das músicas executadas nas rádios foi Fanatismo, música de Fagner sobre poema de Florbela Espanca. A parceria com Florbela Espanca estaria presente no disco seguinte, com as músicas FUMO e TORTURA.
O disco, de nome Fagner, foi gravado no Hit Factory, mesmo estúdio em que John Lennon gravou o seu último disco (Dolbly Fantasy). Neste momento já choviam críticas ao excesso de autoconfiança presente no homem Fagner. Críticas e até divisões a seu respeito fazem surgir confusões entre músico e pessoa: alguns os reuniam num único ser megalomaníaco e antipático e outros procuravam separar o homem do artista, tentando opinar mais sobre o último. É neste clima que a crítica especializada considera os arranjos do disco, a cargo de Licoln Olivetti, muito sofisticados. Vê-se desde então um certo desprezo da crítica pela obra do cantor: ora desejam um trabalho mais popular e quando o artista faz um trabalho deste tipo pregam um trabalho mais sofisticado. Por trás disto tudo, parece se esconder uma profunda antipatia ao homem Fagner.
O disco possui preciosidades: Qualquer Música é tocada nas rádios, música que tem uma música incidental de nome Fagmania, ondeFagner coloca alguns vocais típicos de seu estilo. Outro destaque é Orós II, de João do Vale, pérola da música nordestina dedicada ao próprio Fagner. A música Pensamento, letra e música de Fagner, é tema da novela Final Feliz da Rede Globo.
O disco Palavra de Amor em 1983 é composto de músicas calmas, românticas. Destacam-se Guerreiro Menino (de Gonzaguinha), Palavra de Amor, Acalanto e Paixão e Prelúdio Para Ninar Gente Grande, clássico de Luiz Vieira. No disco há a participação de Chico Buarque (Contigo) e do Roupa Nova (Palavra deAmor).
O disco A Mesma Pessoa, de 1984, não chega a acontecer conforme o previsto. Apenas a música Cartaz é tocada nas rádios do país.O disco é gravado na Inglaterra e contém belas canções como as músicas Me Leve (poema de Ferreira Gullar musicado por Fagner), Só Você e Um Grande Amor (ambas de Vinícius Cantuária).
No mesmo ano é lançado o disco Luiz Gonzaga e Fagner, pela RCA/VICTOR. Os dois cantam clássicos nordestinos a exemplo de Boiadeiro, Súplica Cearense, O Cheiro de Carolina, Xote das Meninas, entre outras. O disco seguinte chamado Fagner é o último do artista pela CBS, lançado em 1985. Com arranjos de Licoln Olivetti, Wagner Tiso e Reinaldo Arias, o disco é um dos mais bem cuidados. Contém música nordestina (Dono dos Teus Olhos de Humberto Teixeira), romantismo (Sobre a Terra, Tranqüilamente), rock popular (Deixa Viver, Contra-mão - parceria com Belchior -, Bola No Pé, esta última lembrando os Loucos Suingues Tropicais gravada no disco de Robertinho de Recife). O disco tem participações de Chico Buarque (Paroara), Cazuza (Contra-mão) e Beth Carvalho (Te Esperei). As músicas Paroara e Te Esperei podem ser consideradas pérolas da MPB. Destaque ainda no disco para Semente, mais uma música de Fagner sobre um poema, desta vez o poeta é o Mário de Andrade.
A estréia na RCA se dá com o disco também batizado por FAGNER, de 1986. Nas rádios é tocada a música Dona Da Minha Cabeça, de Geraldo Azevedo e Fausto Nilo. Fagner volta a musicar poemas: Afonso Romanno de Sant’anna, em Os Amantes, música de um romantismo bem cuidado e Ferreira Gullar (Rainha da Vida). Destaque para a participação de Gonzaguinha na música Forró do Gonzagão e para as novas versões de Sabiá (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) e Como é Grande o Meu Amor Por Você (Roberto Carlos). Há também uma inesperada participação de Isaac Karabtchevisky regendo orquestra em Cantigas, canção de Alberto Nepomuceno e musicada por D.Branca Colaço.
O segundo disco na RCA é o Romance no Deserto, disco de um romantismo mais próximo do popular (o que fez os críticos desejarem a mesma sofisticação antes rejeitada). Além da canção-título (versão de Romance en Durango de Boby Dylan), destacam-se À Sombra de Um Vulcão, Ansiedade e Você Endoideceu Meu Coração. A música Deslizes, de autoria de Michael Sullivan e Paulo Massadas, é tocada exaustivamente em todo o país. Primeiro lugar em todas as paradas de sucesso, a música leva Fagner a uma superexposição na mídia em todo o país. Em seus shows vê-se o delírio, principalmente por parte do público feminino. Ainda em 1987 Fagner participa como ator na minissérie A Rainha da Vida, exibida pela Rede Manchete de Televisão. Na novela Fagner vive um padre em conflito entre o celibato e a volta para um antigo amor. O Padre tem também funções um tanto revolucionárias. Na trilha sonora aparecem Rainha da Vida, Preguiça, Á Sombra de Um Vulcão, além de músicas de Chico Buarque e Milton Nascimento.
Em 1988 aparece o segundo LP feito em parceria com Luiz Gonzaga. Neste, o produtor Fagner procura destacar o lado compositor de Luiz Gonzaga. Constam clássicos como Xamego, Abc do Sertão, Vem Morena e pelo menos duas gravações definitivas: Estrada do Canindé e Amanhã eu Vou. O disco tem participação e co-produção de Gonzaguinha.
Em 1989 é lançado o disco O QUINZE, que serviria de título para um filme homônimo, baseado no romance de Rachel de Queiroz. O disco é o décimo quinto da carreira de Fagner. Destacam-se nas rádios Amor Escondido, Retrovisor, Cidade Nua e Oração de São Francisco. O disco tem a característica de possuir em quase todas as faixas apenas os arranjos em computador de Licoln Olivetti. As participações especiais ficam por conta de Chico Buarque (Joana Francesa, pela segunda vez gravada pelos dois) e Michael Sullivan (numa música inspirada no livro A Doce Canção de Caetana, de autoria de Nélida Piñon).
Em 1991 o versátil Pedras Que Cantam. Fagner mostra a diversidade de sua obra ao gravar músicas tipicamente nordestinas (Pedras Que Cantam, Saudade), boleros (Borbulhas de Amor), além de música sertaneja (Cabecinha no Ombro). A música Pedras Que Cantam é a abertura da novela Pedra Sobre Pedra da Rede globo. Borbulhas de Amor é o grande hit do LP. Destacam-se as participações de Roberta Miranda (Cabecinha no Ombro) e do Roupa Nova (Rio Deserto).
O próximo disco é o Demais, onde Fagner acompanhado de Roberto Menescal regrava clássicos do samba-canção, lançado em 1993. São canções já regravadas à exaustão por diversos artistas, com o agora traço pessoal de Fagner. As interpretações de Ronda e Folha Morta são das mais bonitas até hoje realizadas. Apenas Eu sei Que Vou Te Amar e Brigas são de alguma forma tocadas nas rádios. A parceria com Roberto Menescal rende um disco lançado no Japão, gravado ao vivo durante a despedida de Zico.Com acompanhamento de apenas violões e - em algum momento uma percussão - Fagner visita o início de sua carreira (Canteiros, Último Pau de Arara e Penas do Tiê), passa por grandes sucessos (Revelação, Deslizes, Borbulhas de Amor, As Rosas Não Falam, Guerreiro Menino) e canta músicas do último disco (Eu Sei Que Vou Te Amar, Manhã de Carnaval). O show termina com um inusitado bis para Asa Branca.
O irreverente cantor muda completamente de estilo em Caboclo Sonhador, de 1994. O disco é uma volta às raízes nordestinas, onde destacam-se Lembrança de Um Beijo, Caboclo Sonhador, Minha Vidinha e Cavaleiro da Noite. O disco é um grande sucesso, nem sempre presente na mídia, mas de grande aceitação popular.
É a incursão de Fagner na música nordestina, onde sempre esteve bastante à vontade. Em 1995 surge o Retrato. Disco bem cuidado, marca a volta de Fagner aos seus compositores mais tradicionais, a exemplo de Fausto Nilo, Petrucio Maia, Clodo, Nonato Luiz, entre outros. Infelizmente o disco não tem grande repercussão, apesar de considerado pelos fãs um dos melhores dos últimos anos. Nas rádios, apenas O Amor Riu de Mim, de Altay Veloso. Destaques interessantes são POEIRA, ACORDA, SORRI e TOQUE A MADEIRA.
Neste ano de 1996, Fagner lançou já dois discos. O primeiro é na verdade uma coletânea de músicas típicas nordestinas gravadas por ele na BMG-ARIOLA/RCA, incluindo apenas uma música inédita:Bateu Saudade, forró de letra sofisticada. O disco do ano é o romântico Raimundo Fagner. Não há paralelo entre este e nenhum outro lançado por ele. Os arranjos lembram Nat King Cole em alguns momentos. O repertório é extremamente bem cuidado e inclui pérolas a exemplo de Mucuripe, Pra Quem Não Tem Amor, Letras Negras e Um Vestido e Um Amor. A música Pecado Verde já começa a ser tocada nas rádios do país inteiro.

Mais sobre Fagner: http://www.fagner.com.br/

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