terça-feira, 1 de setembro de 2009

Romantismo refinado das Alagoas

Assim como as flores, os poetas não escolhem lugar ou classe social para florescer. Nascido em família pobre, a 27 de janeiro de 1949, em Maceió (AL), Djavan poderia ter virado raiz, mas a música mudou seu destino e de uma flor-de-lis brotou uma carreira cuja floração já perdura por mais de 25 primaveras. Por sua originalidade e polinização de suas canções, a única coisa que se pode prever a cada novo trabalho de Djavan é sua versatilidade de tons.

Filho de mãe lavadeira, ainda garoto escutava-a cantarolar os sucessos de Ângela Maria e Nelson Gonçalves. Mas a música só veio a se revelar essencial para Djavan Caetano Viana na adolescência. O violão, aprendeu sozinho, olhando, ouvindo e acompanhando as cifras nas revistinhas do jornaleiro. Nesta época, ganhava a vida como meio-de-campo no CSA.

Aos 18 anos, formou o conjunto Luz, Som, Dimensão (LSD), que animava os bailes em clubes, praias e igrejas de Maceió. No ano seguinte, Djavan largou o futebol e passou a dedicar-se apenas à música. Foi dedilhando o violão que Djavan descobriu que podia compor. Os companheiros não o entendiam muito bem, achavam-no estranho, complexo. Mas Djavan teve logo uma certeza, que permanece verdadeira até hoje: gosta de cantar, mas precisa compor. Então, em 1973, decidiu tentar a sorte no Rio de Janeiro.
O popular e o sofisticado se misturam perfeitamente ao longo da carreira de Djavan. "Oceano", música que impulsiona o artista de volta as paradas de sucesso do país, foi incluída na trilha sonora da novela "Top Model" trazendo o refinado violão flamenco de Paco de Lucia. O hit está em mais um álbum intitulado apenas "Djavan", de 1989. Como curiosidade, este disco apresenta duas raridades no repertório de Djavan: "Corisco" (parceria com Gilberto Gil) e "Você Bem Sabe" (com Nelson Motta). O ato de compor é mesmo solitário para Djavan. Um de seus primeiros parceiros foi Aldir Blanc, mais tarde vieram Chico Buarque, Caetano Veloso, Orlando Moraes, Arthur Maia e Dominguinhos. Para Djavan, uma parceria não pode ser uma jogada comercial, é essencial que haja amizade, afetividade.
Como ídolo e figura pública, Djavan sabe bem a repercussão de seus atos e palavras e como tal não esconde sua postura política, atualmente apartidária mesmo que ainda seja simpatizante do PT. Ele confessa que, para ele, bom candidato é aquele cujo programa privilegie a educação, a saúde e a reforma agrária e que ele julgue ter condições de formar um congresso forte o suficiente para lhe garantir governabilidade. Como artista, faz o que lhe cabe e está a seu alcance dar alento a todas as camadas da população através de sua música, participar de shows e campanhas de fundo social.

Assim como a cada lançamento busca ter prazer e se divertir, Djavan acredita que teria sido um arquiteto no mínimo feliz. Talvez venha daí o segredo de seduzir pedras, catedrais ou corações. De qualquer maneira, para quem o escuta com atenção, Djavan já revelou seu sentido há muito tempo "Cantar é mover o dom do fundo de uma paixão..."





Um dia frio
Um bom lugar p´ra ler um livro
E o pensamento lá em você
Eu sem você não vivo
Um dia triste
Toda fragilidade incide
E o pensamento lá em você
E tudo me divide

Longe da felicidade e todas as suas luzes
Te desejo como ao ar
Mais que tudo
És manhã na natureza das flores

Mesmo por toda riqueza dos sheikes árabes
Não te esquecerei um dia
Nem um dia
Espero com a força do pensamento
Recriar a luz que me trará você

E tudo nascerá mais belo
O verde faz do azul com o amarelo
O elo com todas as cores
Pra enfeitar amores gris

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