13 de Março - 1830
Nasce na Vila do Campo Maior de Quixeramobim, Província do Ceará, Antônio Vicente Mendes Maciel, nome de batismo daquele que mais tarde ficaria célebre como Antônio Conselheiro. Era filho de Maria Joaquina de Jesus e Vicente Mendes Maciel. Segundo o escritor João Brígido, que foi amigo de infância de Antônio, os Maciéis era uma "família numerosa de homens válidos, ágeis, inteligentes e bravos, vivendo de vaqueirice e a pequena criação" (BRÍGIDO, 1919) e se envolveram em conflito com os poderosos Araújos, "família rica, filiada a outras das mais antigas do norte da Província" (Ibid), naquela que foi uma das mais longas e trágicas lutas entre famílias de toda a história do Ceará.
O escritor Gustavo Barroso, em artigo publicado na revista O Cruzeiro em 1956, escreve: "José Victor Ferreira Nobre informava que Antônio Conselheiro cursara as aulas de latim de seu avô, o Professor Manoel Antônio Ferreira Nobre, na cidade de Quixeramobim". Mesmo com dificuldades na família, Antônio consegue se dedicar a uma boa formação escolar e estuda também Português, Aritmética, Geografia e Francês. Possui uma boa caligrafia e torna-se um jovem conceituado na cidade.
07 de Janeiro - 1857
Antônio Vicente Maciel casa-se em Quixeramobim com Brasilina Laurentina de Lima.
A partir desta época, Antônio muda constantemente de cidade e de profissão, sendo negociante, professor, balconista e advogado provisionado, ou advogado dos pobres como o chamavam. Em 1861, encontra-se em Ipu (CE), já com dois filhos, sua esposa inicia uma relação amorosa com um furriel (antigo posto entre cabo e sargento) da polícia local. Profundamente abatido, Antônio abandona tudo e se retira para a Fazenda Tamboril, dedicando-se ao magistério. Tempos depois, vai para Santa Quitéria (CE) e conhece Joana Imaginária, mulher meiga e mística que esculpia imagens de santo em barro e madeira e com ela teve um filho chamado Joaquim Aprígio.
Mas Antônio tinha alma de andarilho e em 1865 parte novamente. Trabalhando como negociante de varejos, percorre os povoados da região e de 1869 a 1871 fixa-se em Várzea da Pedra, insistindo com os negócios, mas os fracassos comerciais e a provável influência do Padre Ibiapina levam-no a iniciar uma nova fase de sua vida, peregrinando por todo o Nordeste. Passados alguns anos, em uma visita ao Ceará, encontra o escritor João Brígido, seu antigo colega de infância e declara: "vou para onde me chamam os mal aventurados", retomando assim uma longa caminhada pelos sertões.
Alto, magro, cabelos e barba crescidos, sandálias de couro, chapéu de palha, vestido sempre com uma túnica azul clara amarrada na cintura por um cordão com um crucifixo na ponta e um bastão na mão; esse era o Peregrino.
Antônio caminha incansavelmente, conhece cada palmo do sertão, seus segredos e mistérios. Por onde anda, faz sermões, prega o evangelho e dá conselhos. Gradativamente se transforma, de Peregrino a Beato, de Beato a Conselheiro, Antônio Conselheiro ou Santo Antônio dos Mares ou Santo Antônio Aparecido ou Bom Jesus Conselheiro. Deixa crescer o cabelo e a barba, aprofunda o seu já grande conhecimento da Bíblia e sua fama começa a correr todo o interior do Nordeste e rapidamente vai formando em torno de si um número crescente de fiéis seguidores.
28 de Junho - 1876
Antônio Conselheiro é preso em Itapicuru (BA), pelo delegado de polícia Francisco Pereira Assunção, que em ofício ao Chefe de Polícia da Bahia, João Bernardo de Magalhães, escreve:
"Peço a V.S. para dar providências, a fim de que não volte o dito fanatizador do povo ignorante; e creio que V.S. assim o fará, porque não deixará de saber da notícia, que há meses apareceu, de ser ele criminoso de morte na Província do Ceará."
Esta prisão foi notícia em destaque nos principais jornais de Salvador. Além do Diário de Notícias, o Diário da Bahia e o Jornal da Bahia, também a famosa Folhinha Laemmert, editada no Rio de Janeiro, divulgou pela primeira vez na capital do Império uma notícia sobre Antônio Conselheiro.
5 de Julho - 1876
O Chefe de Polícia da Bahia encaminha Antônio Conselheiro ao seu colega do Ceará, Vicente de Paula Cascais Teles, com a seguinte recomendação:
"... suspeito ser algum dos criminosos dessa Província, que andam foragidos. (...) entretanto, se por ventura não fôr ele ai criminoso, peço em todo caso, a V.S. que não perca de sobre ele as suas vistas, para que não volte a esta Província, ao lugar referido, para onde a sua volta trará certamente resultados desagradáveis pela exaltação em que ficaram os espíritos dos fanáticos com a prisão do seu ídolo."
15 de Julho - 1876
Conduzido num porão de navio para Fortaleza (CE), Antônio Conselheiro foi espancado severamente na viagem e teve cabelo e barba raspados, chegando em estado lastimável ao Ceará, cujo Chefe de Polícia o encaminha ao Juiz Municipal de Quixeramobim, conforme ofício:
... segue, para aí ser posto à sua disposição, Antônio Vicente Mendes Maciel, que se suppõe ser criminoso neste termo, conforme comunica-me o Dr. Chefe de Polícia da Província da Bahia, que me remeteu, afim de que em Juízo, verificando da criminalidade do referido Maciel, proceda como cumpre na fórma da lei.
1° de Agosto - 1876
O Juiz Municipal de Quixeramobim, Alfredo Alves Matheus, encerra o processo da prisão de Antonio Conselheiro, numa carta ao Chefe de Polícia do Ceará onde declara que "tendo verificado não ser o referido Maciel criminoso, o mandei pôr em liberdade alguns dias depois de sua chegada a esta cidade."
O ano de 1877 foi célebre em todo o Nordeste: era o início da grande seca que durou 2 anos deixando um rastro de 300 mil mortos e um número incalculável de retirantes famintos, muitos dos quais comiam cadáveres nas beiras de estrada. Antônio Conselheiro vivencia a dor e o sofrimento do povo nordestino e continua suas peregrinações pelo sertão adentro, falando para os pobres e explorados, e seu comportamento desagradava cada vez mais setores influentes do latifúndio e da Igreja.
16 de Fevereiro - 1882
O Arcebispo de Salvador (BA), D. Luís José envia aos vigários de todo o Estado da Bahia, uma circular proibindo as pregações de Antônio Conselheiro em suas paróquias.
19 de Fevereiro - 1883
Morre aos 76 anos em Santa Fé (PB), o Padre Antônio Ibiapina, lendário missionário que construiu casas de caridade em vários Estados nordestinos. Antônio Conselheiro possivelmente foi muito influenciado pelo Pe. Ibiapina, que antes de se ordenar padre, foi juiz de direito em Quixeramobim (CE) em 1833.
13 de Maio - 1888
Assinada a Lei da Abolição da Escravatura. Teve fim um longo e tenebroso período em que mais de 9 milhões de africanos foram trazidos à força para o Brasil, o penúltimo país do mundo ocidental a abolir a escravidão negra. Esta medida é recebida com entusiasmo por Conselheiro, que há muito tempo já fazia pregações abolicionistas. Muitos ex-escravos, os chamados 13 de maio, não encontrando trabalho e continuando a sofrer violentas discriminações, acompanham o Peregrino em suas andanças, vindo depois a se estabelecer em Canudos. A escravidão era um tema que o preocupava muito e em uma de suas prédicas, ele escreve:
"(...) sua alteza a senhora Dona Isabel libertou a escravidão, que não fez mais do que cumprir a ordem do céu; porque era chegado o tempo marcado por Deus para libertar esse povo de semelhante estado, o mais degradante a que podia ver reduzido o ente humano; a força moral (que tanto a orna) com que ela procedeu à satisfação da vontade divina constitui a confiança que tem em Deus para libertar esse povo, não era motivo suficiente para soar o brado da indignação que arrancou o ódio da maior parte daqueles a quem esse povo estava sujeito."
15 de Novembro - 1889
É proclamada a República. A terra e a renda continuariam concentradas na mão das elites e o poder político não foi democratizado. Novas medidas começam a entrar em vigor, como a separação entre o Estado e a Igreja, o casamento civil e a cobrança de impostos. Conselheiro não aceita o novo regime e passa a combate-lo com firmeza.
26 de Maio - 1893
Ocorre em Masseté (BA) o primeiro confronto armado entre o governo e os conselheiristas. A força militar, composta de 30 soldados e 1 tenente, foi enviada de Salvador (BA), após Antônio Conselheiro liderar um movimento que destruiu na praça pública de Natuba (atual Nova Soure - BA), os editais republicanos de cobrança de impostos, atitude que provocou a ira das autoridades locais.
Em Masseté, os conselheiristas, sob a direção de João Abade e armados de garruchas, cacetes e espingardas de caça, reagiram prontamente ao ataque da força militar, provocando a fuga desordenada da tropa. Após este fato, Conselheiro percebe que a pressão do governo republicano, da Igreja e dos latifundiários tendia a crescer. Então, reúne seus seguidores e abandona o Vale do Itapicuru, centro de suas atividades por muitos anos, partindo sertão a dentro, em busca da "Terra Prometida".
Em 29 de dezembro de 1896 tem início uma segunda expedição militar contra Canudos. Assim como a primeira, esta expedição foi violentamente debelada pelos Conselheiristas.
1897 – Tem início a terceira expedição contra Canudos; comandada pelo capitão Antônio Moreira César, conhecido como “o Corta-Cabeças”, por suas façanhas “heróicas” na Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. Mas, acostumado aos combates tradicionais, Moreira César não estava preparado para eliminar Canudos, e foi abatido por tiros certeiros de homens leais a Antônio Conselheiro. A tropa foge em debandada, deixando para trás armamentos e munição. Para os conselheiristas, trata-se de uma prova cabal da "santidade" do beato de Belo Monte. Em 5 de abril do mesmo ano tem início a quarta e última expedição contra Canudos; desta vez o cerco foi implacável; até muitos dos que se rendiam foram mortos.
22 de setembro de 1897 - Morre Antônio Conselheiro. Não se sabe ao certo qual foi a causa de sua morte. As razões mais citadas são ferimentos causados por uma granada, e uma forte "caminheira" (disenteria).
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