sábado, 31 de outubro de 2009

Pérola do futebol novinha em folha...

Vasco 1 x Bahia 0. Segundo turno, campeonato brasileiro 2009, série B.


Repórter : E aí, Bebeto, no segundo tempo partir para cima do Vasco, pois o Bahia está precisando de ponto...
Bebeto: É tomamos um gol pela falta de atenção ali do nosso zagueiro. Vamos agora para o intervalo e o professor vai conversar com nós. No segundo tempo nós voltamos com tudo para cima do Vasco. Primeiro a gente faz um gol e depois o outro para vencer a partida.

Será que ele queria fazer os dois gols de uma só vez? A regra aceitaria se fosse possível fazer?



Colaboração: H. Cesar Pinheiro.

Violão Brasileiro - Garoto

Começou por aí...



Filho do casal de imigrantes portugueses Antônio Augusto Sardinha e Adosinda dos Anjos Sardinha, foi o primeiro a nascer no Brasil. O pai tocava guitarra portuguesa e violão. Desde muito cedo interessou-se pela música, iniciando seus experimentos em uma viola improvisada de pau e corda. Desde os 11 anos de idade, começou a trabalhar para auxiliar no sustento da casa, empregando-se como ajudante numa loja de instrumentos situada no bairro do Brás. Seu primeiro instrumento, um banjo, lhe foi dado por seu irmão Batista, que além de dedilhar o instrumento, era violonista e cantor. Ao longo de sua carreira, estudou música com Atílio Bernardini e composição com João Sepe, cursando matérias afins com Radamés Gnatali, de quem foi grande amigo.

Em 1926, com 11 anos de idade, começou tocando banjo no conjunto Regional Irmãos Armani, passando a ser conhecido desde então como Moleque do Banjo. Saindo do regional, em 1927, passou a tocar no Conjunto dos Sócios, de seu irmão Inocêncio, apresentando-se em reuniões e festas. Sua primeira oportunidade surgiu em 1929, quando, na exposição no Palácio das Indústrias, atuou num grande conjunto tocando ao lado de Canhoto, Zezinho e Mota. Posteriormente, formaram um conjunto orquestral. Seu ingresso na vida artística deveu-se inicialmente ao cantor Paraguassu, com quem fez suas primeiras gravações e várias excursões pelo interior de São Paulo. Ainda em 1929, apareceu como integrante do conjunto Chorões Sertanejos, que chegou a fazer algumas gravações pela etiqueta Parlophon. Nesta época, conheceu o violonista Aimoré (José Alves da Silva), com quem passa a atuar, seja em grupo, seja em duo, excursionando pelo interior nos intervalos das apresentações paulistanas.

Em 1930, estreou em disco solo, quando o maestro Francisco Mignone, na época diretor artístico da Parlophon, o recebeu para um teste, ao lado do violonista Serelepe. Foram convidados a gravar neste mesmo dia, registrando o maxixe-choro "Bichinho de queijo" e o maxixe "Driblando", ambas composições de sua autoria, em duo de banjo e violão. Em 1931, já tendo participado de programas na Rádio Record, foi convidado a atuar na Rádio Educadora Paulista (mais tarde Gazeta), tocando cavaquinho e bandolim, quando então passou a substituir Zezinho do Banjo, o posteriormenete famoso Zé Carioca, que se transferiu para a Rádio Cruzeiro do Sul. Em 1934, foi convidado por Jaime Redondo para atuar na Rádio Cosmos, onde passou a integrar o conjunto regional de Petit (Hudson Gaia), atuando ao lado de Aimoré, Atílio Grany e Pingo. Em julho de 1935, fez sucesso com Aimoré ao se apresentarem no Pavilhão de Festas da Exposição Rodoferroviária do Paraná. No intervalo dessas excursões, a dupla participou do filme musical "Fazendo fitas", uma sátira aos primeiros filmes sonoros brasileiros, dirigido por Vittorio Capellaro. Apresentando-se na Quarta Caravana Artística e na Rádio Clube Paranaense, recebeu proposta para atuar com Aimoré no Cassino Farroupilha, em Porto Alegre, onde assinaram seu primeiro contrato como dupla. De lá seguiram para a Argentina, acompanhando Carlos Gardel em alguns números. Retornando a São Paulo, a dupla apresentou-se a Sílvio Caldas que os convidou para uma temporada em Santos, na qual obteve grande sucesso tocando violão tenor.

Em 1936, gravou com solos de guitarra havaiana com acompanhamento de Aimoré duas obras suas, o choro "Dolente" e a valsa "Moreninha". Neste mesmo ano, por indicação de Sílvio Caldas e através de César Ladeira, Garoto e Aimoré foram convidados a atuar na Rádio Mayrink Veiga, emissora que possuía na época um dos melhores elencos do Rio. O excesso de trabalho lhe acarretou problemas de saúde, fazendo com que interrompesse por alguns meses suas atividades no Rio de Janeiro. Em 1937, já restabalecido, foi convidado pelo maestro Gaó (Odmar Amaral Gurgel), a integrar na Rádio Cruzeiro do Sul, de São Paulo, o conjunto regional e a orquestra Columbia. Com a volta de Aimoré em abril de 1937, retomam seu trabalho em dupla, apresentando-se nas estações PRB-6 (Rádio Cruzeiro do Sul) e PRE-7 (Rádio Cosmos) da organização Byington, até 1938, quando transferiu-se para o Rio de Janeiro terminando a dupla. No Rio, voltou à Rádio Mayrink Veiga. No mesmo ano, também com acompanhamento de Aimoré, gravou na guitarra havaiana a valsa "Sobre o mar" e no violão tenor o choro "Quinze de julho", ambas de sua autoria.

Em dezembro de 1938 passou a atuar ao lado de Carmem Miranda e Laurindo de Almeida. Com Laurindo, formaria a "Dupla do ritmo sincopado" e o conjunto Cordas Quentes. Em dupla com Aimoré fez ainda inúmeras gravações para a Odeon, acompanhando grandes nomes da época. Em 1939, gravou na Victor com o violonista Laurindo de Almeida os fox trots "Dá-me tuas mãos", de Roberto Martins e Mário Lago e "Música maestro por favor", de Wrubel e H. Magidson. Em outubro do mesmo ano, quando acompanhava Carmen Miranda que se apresentava nos EUA com o conjunto Bando da Lua, foi convidado a substituir Ivo Astolfi, integrante que estava deixando o Bando da Lua. Foi convidado a ir também e se constitiu num sucesso à parte, destacando-se naturalmente do conjunto. Marcou também sua presença na Feira Mundial de Nova Iorque ao lado de outros artistas brasileiros como Romeu Silva e sua orquestra e Zé Carioca. Ainda nos Estados Unidos, participou do filme "Down Argentine Way" rodado em 1940 pela Fox, com Carmen Miranda, que estreou no Brasil com o título de "Serenata Tropical". Em março de 1940, apresentou-se com Carmen Miranda para o presidente Roosevelt na Casa Branca, na comemoração da passagem de seu sétimo ano de Presidência. Após oito meses de permanência no exterior, retornou ao Brasil. De volta ao Rio de Janeiro, retomou suas atividades na Rádio Mayrink Veiga, formando o conjunto Garoto e seus Garotos, integrado por Valdemar Reis, Poli e Almeida ao violão, e Russo do Pandeiro.

Em 1941, gravou com o grupo Seus Garotos, com canto de Valdemar Reis, os sambas "Compromisso para as dez", de sua autoria e Natal César e "Ingratidão", de sua autoria e Geraldo Queiroz. Em 1942, transferiu-se para a Rádio Nacional, atuando na orquestra da rádio, regida por Radamés Gnattali, apresentando-se também em trios, duos e como solista. No mesmo ano, gravou na Odeon a valsa "Abismo de rosas", de Canhoto e o choro "Quanto dói uma saudade", de sua autoria. Ainda no mesmo ano, gravou o primeiro dos seis discos que fez com Carolina Cardoso de Menezes para a Victor com o fox

"Maria Helena", de Lorenzo Baecelata e o choro "Amoroso", de sua autoria. No ano seguinte, gravou com Carolina Cardoso de Menezes os foxes "Amor-Cielito lindo", de G. Ruiz, "Jalousie", de Jacob Gade, "Un peu d'amour", de Adrian Ross e "Amoureuse", e Rodolphe Berger e os choros "Tico-tico no fubá", de Zequinha de Abreu e "Carinhoso", de Pixinguinha e João de Barro. Nesse período participou de vários programas com a pianista. Em 1944, gravou com Carolina Cardoso de Menezes os choros "Rato rato", de Casimiro Rocha" e "Fala, bandolim", de José Augusto Gil e, com vocal de Ruy Rey, o fox "Dor de um coração", de José Augusto Gil e "Os patinadores", de Waldteufel.

Em 1946, gravou na Continental como solista do Bossa Clube os choros "Sonhador" e "Celestial", de sua autoria. No mesmo ano, gravou os choros "Ameno Resedá", de Ernesto Nazareth e "Meu cavaquinho", de sua autoria. Prosseguiuna carreira fazendo muitas viagens, atuações em cassinos e rádio. Apareceu no programa "Nada além" e "Bossa clube" do qual também participavam Carolina Cardoso de Meneses, Luis Bonfá, entre outros. Nessa época, já havia gravado pela Columbia, pela Victor, Continental, sendo, contudo, a maior parte de sua discografia gravada na Odeon.

Em 1949, gravou ao bandolim o choro "1x0", de Pixinguinha e Benedito Lacerda e ao violão tenor o choro "Língua de preto", de Honório Lopes. No mesmo ano, gravou ao violão os choros "Puxa-puxa" e "Caramelo", de sua autoria. No ano seguinte, gravou ao bandolim os choros "Arranca toco", de Jaime Florence e "Dinorá", de Benedito Lacerda e José Ramos e "Desvairada", de sua autoria e a valsa choro "Beira mar", de Atílio Bernardini. Em 1951, gravou ao violão elétrico a valsa "Abismo de rosas", de Canhoto e o choro "Tristeza de um violão", de sua autoria. No mesmo ano, ao cavaquinho gravou o baião "Meu coração", de sua autoria, ao bandolim os choros "Triste alegria", de Bonfíglio de Oliveira e "Famoso", de Ernesto Nazareth e na guitarra havaiana o bolero "Errei sim", de Ataulfo Alves. Ainda no mesmo ano, acompanhou com Radamés Gnattali o cantor Dick Farney na gravação do samba toada "Canção do vaqueiro", de Luiz Bonfá e o samba "Nick bar", de sua autoria e José Vasconcelos, este último, um dos destaques do ano seguinte. Em 1952, gravou os choros "Artigo do dia", de Valdemar de Abreu, o Dunga ao violão tenor e "Guanabara", de Roberto Martins ao violão tenor. Ao bandolim gravou o "Baião caçula", de Mário Gennari Filho. Ao cavaquinho gravou o baião "Kalú", de Humberto Teixeira com grande sucesso e com a qual alcançou o terceiro lugar nas paradas de sucesso, segundo a Revista Carioca de outubro de 1952. Ao bandolim, o choro "Perigoso", de Ernesto Nazareth. Ainda no mesmo ano, gravou ao violão tenor os choros "Um baile em Catumbi", de Eduardo Souto e "Sempre", de K. Ximbinho. Também no mesmo ano, formou dupla com José Meneses participando dos programas "Nada além de dois minutos", "Ao som do viola" e "Um milhão de melodias", em que eram solistas da orquestra da Rádio Nacional. Ainda em 1952, integrou o Trio Surdina, produzido por Paulo Tapajós, então diretor artístico da Rádio Nacional, formado por Fafá Lemos (violino e assobios) e Chiquinho (acordeom). O trio gravou dois LPs de 10 polegadas a convite de Nilo Sérgio pela Musidisc. Nessas gravações participaram ainda Vidal no contrabaixo e Bicalho como ritmista.

Em 1953, gravou ao cavaquinho, de sua autoria, ";Xaxadinho" e "Cavaquinho boogie" e o baião "Chegou a hora", de Rubens Campos e Henricão. No mesmo ano, gravou com Mário Gennari Filho e Tobias Troisi a valsa "Luzes da ribalta", de Charles Chaplin e "Le Lac de come", de C. Galos. Ainda no mesmo ano, gravou com sua bandinha o dobrado "São Paulo quatrocentão" e o "Baião rouxinol", de sua parceria com Chiquinho. O sucesso bateu definitivamente à sua porta com a gravação de "São Paulo quatrocentão", disco que alcançou a vendagem de 700 mil cópias, recorde que se manteria por muito tempo na história do disco brasileiro. No mesmo ano, a cantora e posteriormente também apresentadora de TV Hebe Camargo gravou "São Paulo quatrocentão" com letra de Avaré. Ainda em 1953, participou da Temporada Nacional de Arte, realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, executando sob a regência de Eleazar de Carvalho o "Concertino nº 2" (para violão e orquestra de câmara) de Radamés Gnattali, dedicado a ele, levando pela primeira vez o violão brasileiro ao Teatro Municipal. Em1954, gravou o "Baião paulista" e o choro "Romântico", ambas de Paulo César e Di Veras. No mesmo ano, gravou com Joel de Almeida a música " Arucaia", de J. Sandoval. Ainda no mesmo ano, gravou com sua bandinha o "Baile da Camacha", J. Santos e o corrido "Corridinho 1951", de J. Gomes Figueiredo. Em agosto de 1954, a Rádio Gazeta de São Paulo o recebeu para um programa muito especial: a Suíte de Gala Antártica. Neste programa, o violonista executou a "Suíte para piano e violão" onde, em seis movimentos, estão reunidos diferentes gêneros da música brasileira (Invocação a Xangô, toada, choro, samba-canção, baião e marcha) e o "Concertino nº 2, para violão e orquestra de câmara", ambas composições de Radamés Gnattali. Do programa, participaram ainda o pianista Fritz Jank e a orquestra sinfônica da PRA-6, regida por Armando Belardi. Em 1955, gravou com Fafá Lemos e Chiquinho do Acordeon, no Trio Surdina, o samba canção "Duas contas", com melodia e letra de sua autoria, única música com letra no LP instrumental lançado pela Musidisc sendo cantada por Fafá Lemos, tornando-se um clássico da música popular brasileira. No mesmo ano, gravou na guitarra a "Valsa do adeus" e "Mazurka", de Chopin. Registradas respectivamente em março e abril daquele ano, foram suas últimas gravações.

Como compositor, além de "São Paulo quatrocentão", obteve grande sucesso com "Amoroso", parceria com Luis Bittencourt, "Estranho amor", com David Nasser, "Duas Contas" e "Gente humilde", cuja letra foi escrita posteriormente por Vinícius de Moraes e Chico Buarque. Faleceu em 1955 de ataque cardíaco, quando planejava uma excursão à Europa. Sem dúvida, um dos grandes instrumentistas brasileiros, deixou para o violão composições da maior relevância do ponto de vista musical e técnico, aliando à harmonização sofisticada e de extremo bom gosto, uma linha melódica de contornos modernos e tipicamente brasileiros, sempre com grande musicalidade e beleza. Sua harmonização, baseada em acordes alterados, com progressões incomuns para a época (diziam que fazia música para músicos), fez com que sua obra fosse considerada precurssora das características que seriam desenvolvidas posteriormente na Bossa Nova. Em 1980, o violonista Geraldo Ribeiro, lançou pela Editora Musical Pierrot transcrições da sua obra. Posteriormente, o violonista Paulo Bellinati lançou pela Guitar Solo Publications of San Francisco transcrições e arranjos feitos a partir de gravações e manuscritos do compositor.

Carimbou...

• Bichinho-de-queijo/Driblando (1930) Parlaphon 78
• Moreninha/Dolente (1936) Columbia 78
• Sobre o mar/Quinze de julho (1937) Columbia 78
• Dá-me tuas mãos/Música maestro por favor (1939) Victor 78
• Compromisso para as dez/Ingratidão (1941) Victor 78
• Abismo de rosas/Quanto dói uma saudade (1942) Odeon 78
• Maria Helena/Amoroso (1942) Victor 78
• Amor-Cielito lindo/Jalousie (1943) Victor 78
• Tico-tico no fubá/Carinhoso (1943) Victor 78
• Un peu d'amour/Amoreuse (1943) Victor 78
• Rato rato/Fala, bandolim! (1944) Victor 78
• Dor de um coração/Os patinadores (1944) Victor 78
• Sonhador/Celestial (1946) Continental 78
• Ameno Resedá/Meu cavaquinho (1946) Continental 78
• 1 x 0/Língua de preto (1949) Odeon 78
• Puxa-puxa/Caramelo (1949) Continental 78
• Arranca toco/Desvairada (1950) Odeon 78
• Dinorá/Beira-mar (1950) Odeon 78
• Abismo de rosas/Tristeza de um violão (1951) Odeon 78
• Meu coração/Triste alegria (1951) Odeon 78
• Errei, sim/Famoso (1951) Odeon 78
• Artigo do dia/Guanabara (1952) Odeon 78
• Baião caçula/Perigoso (1952) Odeon 78
• Um baile em Catumbi/Sempre (1952) Odeon 78
• Vamos acabar com o baile/Paulistinha dengosa (1952) Odeon 78
• Kalú/Melancolie (1952) Odeon 78
• Xaxadinho/Cavaquinho boogie (1953) Odeon 78
• Cuco/Chegou a hora (1953) Odeon 78
• Luzes da ribalta/Le Lac de come (1953) odeon 78
• São Paulo quatrocentão/Baião rouxinol (1953) Odeon 78
• Baião paulista/Romântico (1954) Odeon 78
• Sob o céu de Paris/Oh! (1954) Odeon 78
• Arucaia(com Joel de almeida)/Príncipe (1954) Odeon 78
• Baile da Camacha/Corridinho 1951 (1954) Odeon 78
• A abelha e a borboleta/João Viola (1955) Odeon 78
• O sino da capelinha/Polquinha sapeca (1954) Odeon 78
• Valsa do adeus/Mazurka (1955) Odeon 78
• Garoto revive em alta fidelidade (1955) Odeon LP

Meditação e Lamentos do Morro (Garoto)com Paulo Bellinati.

Violão Brasileiro - Canhoto da Paraíba

Entrada, saída...

Nasceu numa família de músicos, onde o avô, Joaquim Soares, era clarinetista, e seu pai, Antônio, tocava violão, convivendo assim desde criança com as serestas e saraus musicais que aconteciam em sua casa. Conheceu em sua infância diversos músicos de sua região natal, como o acordeonista Zé Costa, o saxofonista Manuel Marrocos, os violonistas Zé Micas e Luís Dantas, além do maestro Joaquim Leandro, regente da banda da cidade de Princesa Isabel. Foi com o maestro Joaquim Leandro que aprendeu os primeiros passos musicais. Exerceu a função de sacristão, encarregado de tocar o sino da igreja, o que fazia de maneira especial e que chamava a atenção de todos. Chegou a executar o frevo "Vassourinha" no sino da igreja. Recebeu do pai o seu próprio violão, tendo perdido o instrumento quando o dono de um bar o quebrou na cabeça de um freguês. Aos 16 anos, recebeu um segundo violão, iniciando então um aprendizado mais sistemático. Era convidado constantemente a animar festas, através do sistema de alto-falantes de sua cidade, a Voz de Princesa e Ibiapina, que reproduzia em praça pública um auditório de rádio. Solava choros e valsa, executando composições de Pixinguinha, Jacó do Bandolim e Ernesto Nazaré. Em 1998, sofreu uma esquemia cerebral e ficou com o lado esquerdo do corpo paralisado, o que o impediu de continuar tocando. Faleceu em sua casa, na região metropolitana do Recife, aos 82 anos de idade vítima de um enfarto.

Perambulou...

Sua carreira artística tomou um rumo mais intenso, quando, aos 16 anos, foi levado por frei Casanova para tentar um emprego na Rádio Clube de Recife. Na capital pernambucana, onde ficou conhecido como Chico Soares, manteve contato com artistas como Luperce Miranda, Sivuca, Tia Amélia do Jaboatão, Nelson Ferreira e outros, mas a saudade de casa não o deixou prosseguir com a experiência. Continuou a atuar em sua cidade natal. Em 1953, foi levado pelo deputado Nominando Diniz para João Pessoa, onde assinou contrato com a Rádio Tabajara, local em que atuou por cinco anos, tendo lá formado seu primeiro regional e acompanhado diversos artistas, inclusive aqueles oriundos do Rio de Janeiro. Casou-se nesse período. Em 1958, ficou viúvo e mudou-se para Recife, passando a trabalhar na Rádio Jornal do Comércio, tornando-se presença constante no programa "Quando os violões se encontram". Não podendo, entretanto, viver apenas da música, consegue emprego de assistente social no Sesi de Pernambuco. Segue tocando em diferentes lugares e angariando novos simpatizantes, como o bandolinista Rossini Ferreira e os violonistas Zé do Carmo e Dona Ceça. Em 1959, a convite de alguns músicos que eram seus admiradores, segue para o Rio de Janeiro. Viajou num velho jipe durante cinco dias. No Rio de Janeiro, apresentou-se em um sarau na casa de Jacó do Bandolim, onde estiveram presentes, entre outros Pixinguinha, Radamés Gnattali, Tia Amélia, Dilermano Reis e o ainda adolescente Paulinho da Viola. A apresentação de Canhoto da Paraíba foi tão apreciada, que Radamés Gnattali, ao ouvir a execução do choro "Lembrança que ficou", ficou tão entusiasmado que atirou para cima um copo de cerveja, manchando o teto da casa de Jacó do Bandolim, que, por sua vez, fez questão de preservar a mancha no teto como lembrança do memorável sarau. Chico Soares ainda fez apresentações em São Paulo e regressou ao Nordeste. Em 1968, lançou pela gravadora pernambucana Rozenblit o seu primeiro disco, "Único amor". Pouco depois fez um novo disco, gravado em casa com recursos de amigos e admiradores. Em 1971, Paulinho da Viola dedicou-lhe o choro "Abraçando Chico Soares". Em 1977, lançou pelo selo Marcus Pereira, o disco "Canhoto da Paraíba, o violão brasileiro tocado pelo avesso", onde interpreta diversas composições de sua autoria, como "Visitando o Recife", "Tua imagem", "Corrinha", feita em homenagem a uma de suas filhas, e "Lembrança que ficou", entre outras. No mesmo ano, realizou em companhia de Paulinho da Viola uma excursão pelo Brasil no Projeto Pixinguinha. Participou em seguida do Projeto Pixingão e do programa de Hermínio Bello de Carvalho, na TVE, em companhia da Camerata Carioca e do grupo Nó em Pingo D'água. Teve inúmeras composições gravadas pelo grupo Época de Ouro e pelo violonista Toquinho. Foi um dos fundadores do Clube do Choro de Recife. Em 1993, lançou o disco "Pisando em brasa", onde interpretou diversas composições de sua autoria como "Tá quentinho", "Reencontro com Paulinho", Lourdinha" e outras. O disco contou com as participações especiais de Paulinho da Viola e Raphael Rabello. Desenvolveu uma técnica especial de execução, aliado a um senso harmônico-melódico incomum. Suas influências sonoras incluem os ritmos regionais nordestinos, como o baião, o xote, o xem-nhem-nhem, o frevo, o xaxado e o cateretê, além de ritmos internacionalizados como a bossa nova. Em 2007, foi relançado em CD o LP "Único amor" lançado originalmente em 1968, pela gravadora pernambucana Rozenblit. Foi também lançada em CD sua entrvista ao programa "Ensaio" da TV Cultura.

Fez...

19 de março • Amigo Sena • Choro na madrugada • Com mais de mil • Cordão amigo • Glória do relâmpago • Ilha de Santo Aleixo • Lá vai Barreira • Lembrança que ficou • Lourdinha • Memórias de Sebastião Malta • Pisando em brasa • Reencontro com Paulinho • Revendo um amigo • Tá quentinho • Todo cuidado é pouco • Tua imagem • Valsa a Tozinho • Visitando o Recife.

Mostrou...

• Único amor (1968) Rozenblit LP
• Canhoto da Paraíba, o violão brasileiro tocado pelo avesso (1977), Marcus Pereira (LP)
• Pisando em brasa (1993) Caju Music LP
• Com mais de mil (1994) Marcus Pereira CD.

Documentário em vídeo.

Violão Brasileiro - João Pernambuco

Violonista. Compositor.

Filho de Manuel Teixeira e Teresa Vieira, descendente de portugueses. Com o falecimento do pai em 1891, a mãe casou-se novamente, transferindo-se com a família para o Recife.

Na capital pernambucana, conheceu violeiros famosos como Inácio da Catingueira, Mané do Riachão, Gorgulino, Romano da Mãe d'Água, etc. Começou a trabalhar como aprendiz de ferreiro e posteriormente como operário, reservando sempre suas noites para participar no Mercado e Pátio de São Pedro das reuniões que ali faziam violeiros, cantadores e repentistas. Aprendeu a tocar violão com cantadores sertanejos como Bem-te-vi, Mandapolão, Manuel Cabeceira, o cego Sinfrônio, Fabião das Queimadas e Cirino Guajurema. Em 1904, transferiu-se para o Rio de Janeiro, indo residir com sua irmã Maria, que já se encontrava na cidade. Analfabeto, sem nunca ter freqüentado escola, possuía, no entanto, sólida cultura popular, que viria a se refletir no estabelecimento de sua personalidade artística. Empregou-se numa fundição, onde trabalhava exaustivamente, reservando sempre algumas horas noturnas para o estudo do violão. Nessa época, freqüentava diversas reuniões de música que se realizavam principalmente na Lapa, tornando-se conhecido como João Pernambuco, por estar sempre contando coisas e casos de sua terra. Passou então a residir numa pensão localizada na Rua do Riachuelo, onde veio a conhecer Donga e Pixinguinha (que ali residiam), Sátiro Bilhar, Catulo da Paixão Cearense e o escritor Afonso Arinos, membro da Academia Brasileira de Letras e um dos primeiros intelectuais a pesquisar e promover a MPB em conferências e simpósios que costumava fazer reuniões musicais que ficaram célebres no Rio, mesmo apesar de o escritor ter residêcnia permanente em São Paulo. Em 1908, abandonou a profissão de ferreiro, empregando-se como calceteiro da Prefeitura. Manteve-se nesta profissão até o dia em que foi se apresentar na casa de Pinheiro Machado, que se tornou seu admirador e conseguiu-lhe um lugar de contínuo em um almoxarifado do Largo do Estácio. Em 1922, transferiu-se para o Pedagogium, onde trabalhou como servente até 1934. Neste ano, a convite de Villa-Lobos, transferiu-se para a Superintendência de Educação Musical e Artística (S.e.m.a), onde exerceu a função de contínuo.

Andou fazendo...

Possuidor de grande talento, logo tornou-se amigo de figuras importantes da música popular de seu tempo, como Quincas Laranjeiras, Sátiro Bilhar, Mário Álvares, Patrício Teixeira, Zé Cavaquinho, Veloso, etc. Freqüentava, com assiduidade os bailes carnavalescos da cidade e a Festa da Penha, tradicional encontro de músicos, realizada no Rio de Janeiro durante o mês de outubro. Já autor de choros, canções, toadas sertanejas, e profundo conhecedor de gêneros do populário nordestino, cantou para Catulo da Paixão Cearense algumas dessas cantigas, dentre as quais o coco "Engenho de Humaitá", que pouco tempo depois iria se transformar na célebre canção "Luar do sertão" e a toada "A cabocla de Caxangá". Muito ligado a Catulo, passaram a exibir-se em residências ilustres do Rio de Janeiro, como as de Afonso Arinos e Rui Barbosa. Por volta de 1912, realizou gravações como solista de violão para a Phoenix de Gustavo Figner, irmão de Fred Figner (proprietário da casa Edison). Organizou o Grupo do Caxangá, conjunto de inspiração nordestina, tanto no repertório como na indumentária, no qual cada integrante adotava para si um codinome sertanejo. Em sua primeira formação, o grupo reunia João Pernambuco (Guajurema), Caninha (Mané Riachão), Raul Palmieri, Jacó Palmieri (Zeca Lima), Pixinguinha (Chico Dunga), Henrique Manoel de Souza (Mané Francisco), Manoel da Costa (Zé Porteira), Osmundo Pinto (Inácio da Catingueira), Donga, Bonfíglio de Oliveira, Quincas Laranjeiras, Zé Fragoso, Lulu Cavaquinho, Nelson Alves, José Correia Mesquita, Vidraça e Borboleta. No carnaval de 1914, o Grupo do Caxangá percorreu os principais pontos da Avenida Rio Branco, e "Cabocla de Caxangá" tornou-se grande sucesso musical. Neste mesmo ano, Afonso Arinos, por sinal Tio do jurista e Ministro Afonso Arinos de Mello e Franco, Tio-avô do diplomata, escritor e acadêmico Afonso Arinos, filho, que organizava um ciclo de palestras sobre temas do folclore brasileiro a ser apresentado no Teatro Municipal de São Paulo, convidou-o a participar do evento ao lado de Otávio Lessa (violão), José Alves de Lima (bandolim) e Luís Pinto da Silva (cavaquinho). Com o título de "Lendas e tradições brasileiras", a apresentação fez grande sucesso, sendo reprisada posteriormente.

Em 1916, Pernambuco organizou a "Trupe sertaneja", com que se apresentou em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. O Grupo do Caxangá continuou se apresentando e brilhando nos carnavais dos anos de 1917, 1918 e 1919. Pouco depois, Pixinguinha formou o conjunto Os Oito Batutas, e quase todo o Grupo do Caxangá foi requisitado, desfazendo-se. João Pernambuco não participou da primeira formação. Nessa época, passou a lecionar violão, tal como Quincas Laranjeiras, na Casa Cavaquinho de Ouro. A pedido de Arnaldo Guinle, passou a integrar Os Oito Batutas, que seguiriam em turnê pelo Nordeste, para que este recolhesse material folclórico para uma antologia que Guinle pretendia publicar. Realizaram, então, uma apresentação de despedida para jornalistas do Rio de Janeiro, na sede da A.B.I. Apresentaram-se, ainda, em São Paulo antes de seguir para o Nordeste. No repertório do grupo constavam cantos, toadas, lundus, choros, de sua autoria, de Pixinguinha, Donga, etc.

Em 1920, constituem-se em uma das atrações da opereta sertaneja "Flor tapuia", de Alberto Deodato e Danton Vampré, apresentada no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. Em 1921, recebem convite de Arnaldo Guinle para uma nova excursão a Salvador, com apresentação no Cine-Teatro Olímpia e em Recife, no Cine-Teatro Moderno. De volta ao Rio de Janeiro, os Oito Batutas apresentaram-se no Cine-Teatro América, na revista "O que o rei não viu", musicada por Pixinguinha e China. O grupo fez ainda várias apresentações e, encerrando a temporada de 1921, exibiu-se no Teatro Lírico e no Cabaré Assírio, onde o violonista encerrou sua participação no grupo. Em 1924, Catulo Cearense incluiu em seu livro "Mata iluminada", as letras de "Luar do sertão" e "Cabocla de Caxangá", sem fazer qualquer referência ao autor das melodias. Alguns historiadores acreditam que se tratava de temas do folclore musical nordestino, recolhidos por João Pernambuco. O episódio resultou posteriormente numa batalha judicial, que acabou por dar ganho de causa a João Pernambuco, que, passou a ter incluído seu nome ao lado do de Catulo.

Em 1926, fez suas primeiras gravações pela Odeon, registrando os maxixes "Mimoso" e "Lágrimas", de sua autoria e com o cavaquinista Nelson Alves, os choros "Magoado" e "Sons de carrilhão", também de sua autoria. No mesmo ano, o cantor Patrício Teixeira gravou também na Odeon a canção sertaneja "Jandaia" e a ambolada "Seu Coitinho pegue o boi!", de sua autoria, Ainda no mesmo ano, foi o patrono das provas de violão do concurso "O que é nosso" promovido no Rio de Janeiro pelo jornal "Correio da Manhã". Em 1929, teve gravadas por Stefana de Macedo as toadas "Vancê", parceria com E. Tourinho e "Siricóia" e os cocos "Tiá de Junqueira" e "Biro, biro, Iaiá" para as quais fez acompanhamento ao violão.

Em 1930, gravou uma série de cinco disco para a Columbia como solista de violão interpretando dez obras de sua autoria, os choros "Pó de mico", "Magoada"; "Reboliço"; "Recordando" e "Dengoso", os jongos "Sentindo" e "Interrogando", as valsas "Sonho de magia" e "Suspiro apaixonado" e o fox-trot "Rosa carioca". No mesmo ano, fez as melodias para a toada "Catirina" e as emboladas "Meu noivado", "Perigando" e "ABC",com versos do folclore que o cantor e instrumentista Jararaca gravou na Columbia com seu acompanhamento ao violão. Também no mesmo ano, a cantora Stefana de Macedo gravou a toada "Maneca dos Geraes", o coco "Sodade cabocla", parceria com E. Tourinho e o baião "Estrela d'alva", para as quais fez acompanhamentos ao violão. Ainda em 1930, o cantor Paraguassu gravou sua toada "Amô de caboco" e Januário de Oliveira as canções "A inveja matou Caim" e "Corrupião da lagoa", parcerias com Junquilho Lourival, sendo que para este último, também fez acompanhamentos ao violão.

Em 1947, compõe sua última obra, "Canção do violeiro", sobre versos de Castro Alves. Sua obra, extremamente rica e significativa, constituiu-se num dos pilares do repertório violonístico brasileiro. Segundo declaração de Heitor Villa-Lobos, "Bach não se envergonharia de assinar seus estudos". Em 1969, seu choro "Sons de carrilhões" foi gravado pelo violonista Antônio Rago na Chantecler. Em 1978, o violonista Turíbio Santos lançou o LP "Choros do Brasil", onde revive a obra do violonista e compositor, da qual destacam-se os choros "Sons de carrilhões", obra que integra o repertório de quase todos os violonistas brasileiros, "Graúna", "Dengoso", "Interrogando" e "Pó-de-mico". Em 1980, teve os tangos "Lágrima" e "Sentindo" e o choro "Brasileirinho" incluídos em show apresentado pelos violonistas Nicanor Teixeira e Sérgio de Pina. Em 1983, em comemoração ao centenário de nascimento do compositor, a Funarte lançou LP com a participação do pianista Antonio Adolfo e do grupo Nó em Pingo d'Água. Os arranjos, feitos especialmente para a ocasião, foram também editados pela Funarte. Em 1999, o violonista Leandro Carvalho lançou o CD"Descobrindo João Pernambuco", com gravações de sua obra. Em 2000, o violonista Caio Cesar lançou o CD "João Pernambuco" apenas com suas músicas, cujo lançamento foi efetuado com vários shows na cidade do Rio de Janeiro. No mesmo ano, foi lançado por Baden Powell o CD "João Pernambuco e o sertão".

Escreveu e mandou pra frente...

A. B. C • A coivara de meu peito • A estrada do sertão (c/ Wilson W. Martins) • A inveja matou Caim • A voz da cascata • Ajueia Chiquinha • Amor de caboclo • Amorosa • Azulão • Batuque sertanejo • Biro-biro Iaiá • Brasileirinho • Canção do violeiro (c/ Castro Alves) • Canção gaúcha • Catirina • Ceci • Choro nº 1 • Choro nº 2 • Coco dendê • Coração, que mais queres? • Corrupião da lagoa • Cuscuz de sinhá Chica • Dengoso • Emboladas do norte • Engenho de Humaitá • Esperança • Estrela d'alva • Estudo nº1 • Estudo nº2 • Estudo nº3 • Feito agora • Graúna • Gritos d'alma • Interrogando • Já não sabe beijar-me? • Jandaia • Lágrima • Lamento • Longe de você (c/ Paulo Rosas) • Luar do sertão (c/ Catulo da Paixão Cearense) • Magoado • Mágoas de um cearense (c/ Junquilho Lourival) • Meu noivado • Mimoso • Mulatinho • Não vou lá • Noite de ventura • O marroeiro (c/ Catulo da Paixão Cearense) • Os olhos da sertaneja (c/ Alfredo Cândido) • Pagã • Pensando em Agostinha • Perigando • Pó-de-mico • Polca de bravura • Porque és assim • Pra você (c/ J. Paiva) • Preto e branco (c/ Fefeca) • Reboliço • Recordando minha terra • Recordando • Romance • Rosa carioca • Sabiá (c/ Pixinguinha) • Saudoso • Sempre-viva • Sentindo (c/ Lilinha Fernandes) • Sertanejo saudoso (c/ Catulo da Paixão Cearense) • Seu Coutinho, pegue o boi! • Siricóia • Sodade cabocla (c/ E. Tourinho) • Sonho de magia (c/ Heitor Catumbi) • Sonho divino • Sons de carrilhões • Suspiro apaixonado • Tiá de Junqueira • Valsa nº1 • Vancê (c/ E. Tourinho) • Vem cá, bebê (c/ Macedo)

Raphael Rabello - Jongo (João Pernambucano)

Violão Brasileiro - Dilermano Reis

Violonista e compositor nascido em 22 de setembro de 1916 em Guaratinguetá, SP e falecido em 2 de janeiro de 1977, no Rio de Janeiro, RJ. Dilermando dos Santos Reis começou a estudar violão com o pai, o violonista Francisco Reis, ainda na infância. Em 1931, aos 15 anos de idade, Dilermando já era conhecido como o melhor violonista de Guaratinguetá. Neste mesmo ano, assistindo a um concerto do violonista Levino da Conceição, que se apresentava na cidade, tornou-se seu aluno e seu acompanhador, seguindo-o em suas excursões. Em 1933 chegou ao Rio de Janeiro, em companhia de Levino e segundo contou em depoimento ao MIS \"ao desembarcarmos na Central, tomamos o bonde com destino à Lapa à procura do violonista João Pernambuco\" (amigo de Levino). O violonista residia num quarto de uma república na Praça dos Governadores (posteriormente Praça João Pessoa) localizada no cruzamento da Av. Mem de Sá com a Rua Gomes Freire). Passaram o resto do dia ( e a noite) com João Pernambuco, entre conversas e música. Em 1934, Levino a pretexto de ir a Campos, deixou pagos 15 dias de hotel para o jovem violonista e nunca mais voltou. Sozinho na cidade, Dilermando procurou auxílio com João Pernambuco, que o acolheu. Em fins da década de 30, envolveu-se num caso amoroso com Celeste, companheira de seu ex-professor Levino Conceição. O casal passou a residir na Rua Visconde de Niterói, próximo ao Morro de Mangueira. Viveram juntos por toda a vida. Um dos mais importantes violonistas brasileiros, atuou como instrumentista, professor de violão, compositor, arranjador, tendo deixado uma obra vultuosa, versátil, composta de guarânias, boleros, toadas, maxixes, sambas-canção e principalmente de valsas e choros. Iniciou sua vida profissional aos 18 anos de idade. Segundo seu relato ao Jornal do Brasil \"Naquela época as lojas de instrumentos musicais mantinham professores de música que ajudavam a aumentar a clientela. Dei aulas numa loja na rua Buenos Aires, depois fui apresentado por um aluno ao dono da loja \"Ao Bandolim de Ouro\". Em 1935, passou a lecionar na loja \"A Guitarra de Prata\". Por essa época, Dilermando começou a acompanhar calouros na Rádio Guanabara, trabalho esporádico e sem contrato. No intervalo de uma dessas apresentações, Dilermando como costumava fazer, solava uma valsa \"Gota de lágrima\", de Mozart Bicalho quando o radialista Renato Murce ouviu e gostou. Levou o violonista para a Rádio Transmissora e deu-lhe um programa de solos de violão, para experimentar o resultado. O programa foi um sucesso e iniciava-se neste momento uma carreira de violonista destinado à fama. Como já naquela época não era possível sobreviver apenas de solos de violão, continuou como acompanhador em regionais, como faziam todos os grandes violonistas da época (Garoto, Laurindo de Almeida, etc). Em 1940, transferiu-se pra a Rádio Clube do Brasil. Nesse mesmo ano, formou uma orquestra de violões (composta de 10 violonistas), à qual acredita-se que tenha sido uma das primeiras do gênero. Atuou com êxito na Rádio Clube e também Cassino da Urca. Em 1941, gravou seu primeiro disco pela Colúmbia, onde constavam a valsa \"Noite de lua\" e o choro \"Magoado\", provavelmente o mais conhecido e mais executado de seus choros. Em 1944, fez um segundo disco também com composições suas. Em 1946, mais dois discos num dos quais registrou pela primeira vez músicas de outro compositor. Encerrou a década de 1940, com um total de nove discos gravados. A década de 50, representou a consolidação e grande avanço na carreira do artista. Em 1956, assinou contrato com a Rádio Nacional, com o programa \"Sua majestade, o violão\", nos primeiros anos apresentado por Oswaldo Sargentelli e posteriormente por César Ladeira. O programa tinha por prefixo a mazurca \"Adelita\", de Francisco Tárrega e se manteve no ar até 1969. Na década de 60, gravou vários LPs. Em 1960, lançou o disco \"Melodias da Alvorada\", em homenagem à nova capital, com arranjos e regência de Radamés Gnattali. De 1941 a 1962, lançou 34 discos de duas faces (68 músicas) em 78 rpm. Dentre essas, 43 de sua autoria. Com o início da era do LP, Dilermando passou a gravar perfazendo um total de 35 LPs gravados em sua carreira. Os LPs, mostraram uma nova faceta do violonista: o acompanhamento de cantores com apenas um violão, que neste caso se caracterizava pela apresentação da canção, seguida de um solo de Dilermando, voltando ao acompanhamento para terminar. Nesse estilo de acompanhar, Dilermando esteve ao lado de José Mojica quando este veio ao Brasil e fez um total de sete LPs com o cantor Francisco Petrônio. Em 1970, Radamés Gnattali dedicou ao violonista o Concerto nº1, gravado nesse mesmo ano. Como professor, ensinou a grandes violonistas dentre os quais Darci Vilaverde e Bola Sete. Foi também professor de Maristela Kubitscheck, filha do presidente Juscelino, de quem foi grande amigo e parceiro de serenatas. Essa amizade, aliás, valeu a Dilermando a nomeação para um cargo público, o que muito lhe aliviou as dificuldades financeiras. Em 1972, gravou o LP \"Dilermando Reis interpreta Pixinguinha\", e em 1975 lançou \"O violão brasileiro de Dilermando Reis\" ambos pela Continental. Em alguns de seus LPs foi acompanhado pelos grandes violonistas Horondino Silva, o Dino Sete Cordas e em outros por Jaime Florence, o Meira. Além de sua vasta obra, Dilermando deixou inúmeros arranjos editados. Na década de 90, o violonista Genésio Nogueira iniciou uma coleção de LPs e CDs dedicados à obra do compositor.

Colaboração de Antonio Erácleo do Carmo Filho.

Gordurinha - Além de grande artista, idealista de verdade.

Compositor. Cantor. Violonista. Radialista.

Com 16 anos aprendeu a tocar violão. Cursou, como Noel, o segundo ano de Medicina, mas abandonou os estudos para seguir a carreira artística. Ganhou o apelido de Gordurinha dos amigos de rádio por sua magreza. Em 1964 desagradado com o golpe militar, fugiu de casa deixando com os familiares a determinação para que destruíssem tudo o que parecesse comprometedor, especialmente uma foto em que aparecia tocando violão para o presidente João Goulart e o governador Leonel Brizola. Doente, só reapareceu meses depois. Faleceu em 1969 vítima de infarto.

A carreira

Começou a carreira artística aos 16 anos, apresentando-se em um programa de calouros na Rádio Sociedade da Bahia, em Salvador. Na época participou do grupo vocal "Caídos do Céu". Em 1951 começou a produzir e apresentar programas na Rádio Tamandaré do Recife, em Pernambuco. Em 1952 foi para o Rio de Janeiro para dar continuidade à carreira artística. Pouco depois mudou-se para Recife onde atuou nas Rádios Jornal do Comércio e Tamandaré. Em 1954 teve sua primeira composição gravada por Jorge Veiga, o baião "Quero me casar". No mesmo ano, a dupla Venâncio e Corumba gravou o baião "Cadeia da vila". Em 1955 gravou com Leo Villar seu primeiro disco, interpretando a marcha "Soldado da rainha", dele e João Grimaldi, e "Sonhei com você", de Roberto Martins e Mário Vieira, com vistas ao carnaval do ano seguinte. Em 1957 apresentou na Rádio Nacional o programa "Varandão da casa grande". Apresentou ainda os programas "Café sem concerto" na Rádio Tupi e "Boate Ali Babá", na TV Tupi. Em 1958, Ari Lobo gravou o coco "Quixeramobim". No mesmo ano, gravou um de seus grandes sucessos, o , o coco "Vendedor de caranguejo".

Em 1959, o samba "Chiclete com banana", parceria com Almira Castilho, foi gravado com grande sucesso por Jackson do Pandeiro. Este samba, além de peça de teatro, foi tema de uma tira de histórias em quadrinhos, do desenhista Angeli e foi nome de uma banda de música baiana. Ainda no mesmo ano, fez grande sucesso com o baião "Baiano burro nasce morto", que geraria um famoso bordão nas televisões da época. Em 1960 gravou mais um grande sucesso, o baião-toada "Súplica cearense", composto em parceria com Nelinho, composição considerada pela crítica como sua obra-prima e uma das músicas mais pungentes em solidariedade aos miseráveis da seca nordestina. No mesmo ano, o cantor Antônio Martins gravou o tango "Ribalta". Teve diversas composições gravadas pelo cantor Jorge Veiga, entre as quais os sambas "Caixa alta em Paris", "O marido da vedete" e "Quando o divórcio chegar". Ari Lobo gravou os cocos "Paulo Afonso" e "Pedido a padre Cícero".

Em 1962 lançou o LP "A Bossa do Gordurinha", com destaque para "Baiano não é palhaço". Em 1963 lançou pela Copacabana o LP "Gordurinha...um espetáculo", com destaque para "Fornalha" e "Baião bem". Como produtor musical ajudou a fazer os melhores discos do Trio Nordestino. Em 1968, Augusto Boal dirigiu no Teatro de Arena de São Paulo o musical "Chiclete com banana", inspirado na música de Gordurinha, criticando as relações desiguais entre a música brasileira e a música estrangeira, particularmente a norte-americana. Em 1972, Gilberto Gil, em disco lançado após seu retorno do exílio em Londres, regravou "Chiclete com banana". Em 1974, o cantor Macalé gravou "Orora analfabeta" e "Mambo da cantareira", no LP "Aprender a andar".

Em 1997, o Trio Nordestino, em sua nova versão, regravou o "Mambo da cantareira". Em 1999 o selo "Sons da Bahia" sob o patrocínio do Governo do Estado e com lançamento comercial pela Warner Music gravou o disco "A confraria do Gordurinha", com 16 faixas de sua autoria interpretadas por Gilberto Gil, que cantou "Baianada" e mais três músicas, Confraria da Bazófia e ainda Marta Millani. Em 2000, a Warner Music na série "Enciclopédia Musical Brasileira", lançou o CD "Jackson do Pandeiro e Gordurinha", no qual o cantor e compositor baiano aparece interpretando sete composições de sua autoria, entre as quais, "Oito da Conceição", "Vendedor de carangueijo" e "Qual é o pó?".

Obra

A cadeia da vila (c/ Antônio Alves) • A vassoura da comadre • Aquarela do morro • Baianada (c/ Carlos Diniz) • Baiano burro nasce morto • Baiano não é palhaço • Beco sem saída • Boêmio aposentado • Bossa quase nova • Cabra macho • Caixa alta em Paris • Carta de ABC • Chiclete com banana (c/ Almira Castilho) • É um calo só • Eu preciso namorar • Eu te escuto • Já fui palhaço (c/ Luiz de Carvalho) • Larga o coco • Meio termo • Meu amigo Oliveira • Não sou de nada (c/ Valter Silva) • O dono do circo (c/ Sarbina) • O marido da vedete • O vendedor de biscoito (c/ Nelinho) • Oito da Conceição • Olha o rapa (c/ E. Celestino) • Orora analfabeta (c/ Nascimento Gomes) • Paulo Afonso • Pedido a Padre Cícero • Perigo de morte (c/ Wilson Morais) • Praça do Ferreira (c/ Nelinho) • Quando o divórcio chegar • Quero me casar • Quixeramobim • Resto de vida • Ribalta • Súplica cearense (c/ Nelinho) • Tenente Bezerra • Torcida organizada • Trem da Central (c/ Mary Monteiro) • Vendedor de caranguejo

Discografia

• Oito da Conceição/Vendedor de caranguejo (1958) Continental 78
• Baiano burro nasce morto/Sorvete com gelo (C/Mário Tupinambá) (1959) Continental 78
• Tenente Bezerra/A cadeia da vila (1959) Continental 78
• Chiclete com banana/Baianada (1959) Continental 78
• Não sou de nada/Eu preciso namorar (1960) Continental 78
• Súplica cearense/Poeira de morte (1960) Continental 78
• Mambo da cantareira/Deixa pra mim (1960) Continental 78
• Marcha da cantareira/Meu tutu (1960) Continental 78
• Bossa quase nova/Tô doido pra ficar maluco (1961) Continental 78
• Copacabana-mambo/Já fui palhaço (1961) Continental 78

Veja como se faz.

Zequinha de Abreu

José Gomes de Abreu, mais conhecido como Zequinha de Abreu (Santa Rita do Passa Quatro, 19 de setembro de 1880 — São Paulo, 22 de janeiro de 1935) foi um músico, compositor e instrumentista brasileiro. Tocava flauta, clarinete e requinta. Um dos maiores compositores de choros, é autor do famoso choro "Tico-Tico no Fubá" que foi muito divulgado no Exterior nos anos 40 por Carmen Miranda. É pouco provável que a similaridade desta melodia com uma no primeiro movimento do Concerto para Piano Op.15 de Beethoven seja mera coincidência. Abreu foi organizador e regente de orquestras e bandas no interior paulista.

Biografia

Zequinha de Abreu era o mais velho dos oito filhos do boticário José Alacrino Ramiro de Abreu e Justina Gomes Leitão. Sua mãe anseava para que ele seguisse a carreira de padre e o pai, desejava que se formasse em medicina. Mas aos seis anos de idade, ele já mostrava que tinha vocação para a música, tirando melodias da flauta. Ainda durante o curso primário organizou uma banda na escola, da qual ele mesmo era o regente. Com 10 anos, já tocava requinta, flauta e clarineta na banda e ensaiava suas primeiras composições.

Zequinha estudou em Santa Rita do Passa Quatro e no Colégio São Luís de Itu. Em 1894 foi para o Seminário Episcopal de São Paulo, onde aprendeu harmonia. Aos 17 anos voltou para sua cidade natal e fundou sua própria orquestra visando se apresentar em saraus, bailes, aniversários, casamentos, serestas e em cinemas, acompanhando os filmes mudos. Nessa época, fez suas primeiras composições conhecidas, como "Flor da Estrada" e "Bafo de Onça".

Aos 18 anos contraiu matrimônio com Durvalina Brasil, que tinha apenas 14 anos de idade. O casal morou por alguns meses no Distrito de Santa Cruz da Estrela, atual Jacerandi, próximo a Santa Rita. Cuidavam de uma farmácia e de uma classe de ensino primário. De volta à Santa Rita, Zequinha coordenou o trabalho da orquestra com os cargos de secretário da Câmara Municipal e de escrevente da Coletoria Estadual.

Fonte: Wikipedia

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Pernambuco por Ceará

Manassés. Algodão (Luis Gonzaga)

Violão brasileiro - Turíbio Santos

Instrumentista (violonista). Compositor. Professor.

Filho de um violonista clássico e seresteiro. Nascido em São Luís, mudou-se com sua família, em 1946, para o Rio de Janeiro, onde iniciou seus estudos musicais aos dez anos de idade, com Antônio Rabelo. Em 1953, conheceu aquele que seria um grande incentivador de sua carreira, o compositor e produtor Hermínio Bello de Carvalho, então membro da diretoria da Associação Brasileira de Violão. Teve ainda, como professores, o violonista uruguaio Óscar Cáceres e o maestro e compositor Edino Krieger.

Iniciou sua carreira profissional em 1962, em um concerto realizado em São Luís. Nesse mesmo ano, voltou a se apresentar no Rio de Janeiro, ocasião em que conheceu Arminda Villa-Lobos, esposa de Heitor Villa-Lobos, que viria a ser de fundamental importância em sua carreira. Foi a pedido dela que fez sua primeira gravação, um LP com os 12 estudos para violão de Villa-Lobos.

Em 1963, realizou a primeira audição da composição "Sexteto místico", também de Villa-Lobos, atuando ao lado de um conjunto camerístico.

No ano seguinte, participou de um movimento pela integração dos gêneros popular e erudito, liderado por Hermínio Bello de Carvalho. Nessa ocasião, exibiu-se ao lado de outros artistas, como Clementina de Jesus, Jacob do Bandolim, Paulo Tapajós e Araci de Almeida.

Em 1965, obteve consagração internacional ao vencer o "Concours International pour la Guitare", promovido pela Rádio e Televisão Francesa. Foi nomeado professor de dois conservatórios em Paris. Gravou, nessa cidade, cerca de dez LPs, lançados simultaneamente na França, Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Austrália e outros países. Estudou com dois dos maiores nomes do violão do século XX: Julian Bream, na Inglaterra, e Andrés Segóvia, na Espanha. Apresentou-se por toda a Europa como solista.

Em 1972, atuou ao lado de Elizeth Cardoso, interpretando a "Seresta nº 5", de Villa-Lobos, para a série "Concertos para a Juventude", da Rádio MEC. Nesse mesmo ano, apresentou-se com Leonard Bernstein e Arthur Rubinstein na temporada do anfiteatro da Faculdade de Direito, em Paris.

Em 1983, criou a Orquestra de Violões do Rio de Janeiro, integrada por seus alunos, e a Orquestra Brasileira de Violões.

Dois anos depois, recebeu a comenda de "Chevalier de la Legion D' Honneur", conferida pelo governo francês. A partir desse ano, passou a exercer o cargo de diretor do Museu Villa-Lobos.

Em 1989, foi condecorado oficial da Ordem do Cruzeiro do Sul.

Sua discografia inclui mais de 40 LPs gravados, sendo que muitos deles foram relançados em CD.

Em 2001, lançou o CD "John Sebastian Bach visita a Mata Atlântica".

Flertando com o cancioneiro popular, lançou, em 2008, ano de seu 65º aniversário, o 65º disco, "Mistura brasileira", cujo repertório registra clássicos de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira ("Asa branca", "Juazeiro" e "Baião") e Jackson do Pandeiro ("O canto da ema", "Forró em Limoeiro" e "Sebastiana"), mistura Tom Jobim e Villa-Lobos, e inclui composições próprias, como "Prelúdio da Rosa", entre outras

É membro fundador do Conseil d' Entraite Musicale da UNESCO.

Choro N° 1 (Heitor Villa-Lobos) - Turibio Santos

À MINHA NEREIDA

Sonhei que estava bem longe! Na Austrália.
E dormindo ao teu costado. Na Almeida.
De ti a brisa trazia cheiro de dália.
Ah! Que sonho me traz essa nereida.

Entretanto, ao sonho, em represália...
Tive que ficar com a solidão
E sozinho com minha genitália
Pensei e me contentei com a mão.

Para o amor será que existe distância?
Não creio...Pois a lei é do coração.
Pois é dele que nos vem esta ânsia.

Louca. Até por alguém que nunca se viu,
Que nos dá tamanha palpitação.
Quem diz o contrário é porque mentiu.

MASSAIMARA.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Jane e Victor

Victor Biglione -Instrumentista (guitarrista). Compositor.

Nascido em Buenos Aires e naturalizado brasileiro, estudou em 1976 no Centro Livre de Aprendizagem Musical (Clam), escola de música do Zimbo Trio. No ano seguinte, viajou para os Estados Unidos, tendo freqüentado a Berklee College of Music de Boston (Massachusetts). Transita na área da música contemporânea, especialmente do jazz e do blues.

Em 1982 e 1983, fez parte do conjunto A Cor do Som, com o qual gravou o disco "Magia tropical" e foi contemplado com o Troféu Socimpro na categoria de melhor grupo instrumental de 1982.

Atuou como guitarrista ao lado de vários artistas, como Ivan Lins, Gal Costa, Chico Buarque, Djavan, Milton Nascimento, Sérgio Mendes, Wagner Tiso, João Bosco, entre outros brasileiros, além dos internacionais Lee Konitz, John Patitucci, Steve Hacket (do Genesis), Andy Summers (do Police), e do grupo Manhattan Transfer.

Lançou, na década de 1980, os LPs "Victor Biglione" (1986), "Baleia azul" (1987) e "Quebra pedra" (1989). Em 1989, recebeu o Troféu Grandes Músicos Brahma Extra e foi indicado para o Prêmio Sharp na categoria de melhor arranjador instrumental.

Em 1990, foi premiado pela Melhor Trilha Sonora, no Rio Cine Internacional Festival de Cinema do Rio de Janeiro, pela música do filme "Faca de dois gumes", de Murillo Sales.

Em 1993, gravou o CD "Trilhas".

No ano seguinte, lançou, com Zé Renato e Litto Nébia, o CD "Ponto de encontro" e, com Marcos Ariel, o CD "Victor Biglione & Marco Ariel Duo".

Em 1997, foi novamente indicado para o Prêmio Sharp, na categoria Melhor Disco de Trilha Sonora de Cinema, pelo CD "Como nascem os anjos". Ainda nesse ano, apresentou-se em Montreux, show que gerou o CD "Ao vivo em Montreux".

Em 1999, seu CD "Strings of Desire", em duo com Andy Summers (ex-integrante do grupo The Police), foi lançado no Brasil, Estados Unidos, Europa e Japão. Nesse mesmo ano, gravou o CD "Cinema acústico".

Participou de trilhas sonoras para teatro, como "Uma aventura na Síria" (1990) e "Procura-se um amigo" (1990), para novelas e seriados de televisão, como "Pai herói" (1981) "Procura-se um amigo" (Rede Manchete, 1993) e "A justiceira" (Rede Globo, 1997), e para cinema, como "Dayse das almas deste mundo", "Faca de dois gumes" (1988), de Murilo Salles, "Oswaldianas" (1991), de Lúcia Murat, "Como nascem os anjos" (1996), de Murillo Sales, e "Amar" (1997), de Carlos Gregório.

Apresentou-se em televisão no show gravado ao vivo no Golden Room do Copacabana Palace (TVE, 1988), Free Jazz (Rede Manchete, 1990), "Especial Victor Biglione" (TVE, 1993), "Fantástico" (Rede Globo, 1993) e "Beau et Chaud Programme" (Televisão Canadense).

Em 2000, lançou o CD "Um tributo a Hendrix". Nesse mesmo ano, realizou, com Marcos Valle e os músicos canadenses Jean Pierre Zanella (sax e flauta) Jean-François Groulx (sintetizador), Jim Hillman (bateria) e Norman Lachapelle (baixo), o show de encerramento das comemorações dos 500 anos do Brasil, em Montreal. O espetáculo foi gravado ao vivo e lançado, em 2003, no CD "Live in Montreal".

Em 2004, lançou , com Wagner Tiso, pela gravadora Albatroz em conjunto com o Núcleo de Comunicação da Universidade Estácio de Sá (RJ), com distribuição nacional da Trama, o CD "Tocar", registro ao vivo do espetáculo realizado pelos dois instrumentistas, contendo as canções "Expresso 2222" (Gilberto Gil), "Samba de uma nota só" (Tom Jobim), "Cravo e Canela" (Milton Nascimento) e "Sonho de um Carnaval' (Chico Buarque), entre outras. O disco teve show de lançamento na Toca do Vinicius e na Estrela da Lapa, no Rio de Janeiro.

Em 2005, apresentou-se na Casa de Cultura Estácio de Sá (RJ), ao lado de Andy Summers, em show de lançamento do CD "Splendid Brazil", no qual os dois guitarristas registraram exclusivamente músicas brasileiras. Nesse mesmo ano, deixou gravadas suas mãos na Calçada da Fama da Toca do Vinicius, em Ipanema (RJ).


Trenzinho Caipira (Villa Lobos)

Victor Biglione: Guitarra.
José Lourenço: Teclado.
Renato Massa:Bateria.
Jonny Barreto: Baixo acústico.



Rio de Janeiro/1997.

Jane Duboc

Cantora. Compositora.

Destacou-se em sua cidade natal desde criança, não só como cantora mas também como esportista, tendo sido contemplada com muitas medalhas em competições estaduais de natação, voleibol, tênis e tênis de mesa. o que motivou a criação, pela Assembléia Legislativa de Belém, do prêmio "Jane Duboc Vaquer" de incentivo aos esportistas paraenses. Estudou piano e violão. Integrou, em Belém o conjunto Ilusão e, em Natal, o Quarteto das Tri, formado por tri-campeãs no esporte. Em 1970, viajou para os Estados Unidos, onde criou a Fane Jazz Band, em que atuava como vocalista e instrumentista.

Em 1971, defendeu a canção "No ano 83", de Sérgio Sampaio, no VI Festival Internacional da Canção (Rede Globo).

De 1972 a 1976, morou nos Estados Unidos, onde estudou na Faculdade de Música da Universiade da Geórgia (orquestração, canto lírico, flauta e arte dramática), além de atuar como cantora, compositora e instrumentista, cantando em bares, boates, clubes e igrejas.

Em 1977, voltou para o Brasil, onde formou o Grupo Fein , que se apresentava cantando somente em inglês. Lançou o compacto "Pollution", cuja música, de sua autoria, foi gravada só em vocalise porque a letra foi vetada pela Censura. O disco foi produzido por Raul Seixas, com quem atuou em shows e gravações. Também nos anos 1970, integrou a Banda Veneno, do maestro Erlon Chaves, e o coral da Rede Globo, gravando várias aberturas de programas. Participou, também do disco "Linguinha", de Chico Anysio e gravou com o guitarrista norte-americano Jay Anthony Vaquer, com quem foi casada, o LP "Morning The Musicians" (RCA), que contou com a participação de Luiz Eça, Paulo Moura, Noveli e Bil French. Excursionou com Egberto Gismonti nos shows "Água e Vinho I e II", com quem gravou vocais e percussão no CD "Árvore". Ao lado de Sérgio Sampaio, interpretou, no VI Festival Internacional da Canção, a música "No ano 83". Gravou as trilhas sonoras do filme "Janaina" e da peça "Encontro no bar". Cantou músicas folclóricas regionais no LP "Acalantos brasileiros" e na série "Música popular do Norte", para o selo Marcus Pereira,. Compôs e gravou, com Guto Graça Melo, a trilha sonora do filme "Amor bandido", de Bruno Barreto. Ainda nos anos 1970, foi integrante da Zurama Jingles, gravando comerciais para a produtora de Ivan Lins, Eduardo Souto Neto, Tavito e Paulo Sergio Valle, com destaque para o comercial da Soletur Turismo, veiculado em rede nacional de Televisão. Fez parte da Rio Jazz Orquestra, de Marcus Spillman, cantando temas de Duke Ellington e outros nomes do jazz. Participou das gravações de discos dos grupos Os Motokas e Os Skates, ao lado de Claudinha Telles e do Grupo Roupa Nova, que na época atuava como Os Fanks.

Em 1980, gravou seu primeiro disco solo, "Languidez", que contou com a participação de Toninho Horta, Djavan, Sivuca, Hélio Delmiro, Luis Avelar e Osvaldo Montenegro. No repertório, sua composição "Meu homem", além de canções como "Cachoeira" (Osvaldo Montenegro), "Manoel, o audaz" (Toninho Horta e Fernando Brant), que ganhou clipe no programa "Fantástico" (Rede Globo) e "Que outro dia amanheça" (Edson e Terezinha), que ocupou os primeiros lugares nas emissoras de rádio do país, entre outras. Participou do festival MPB-80 (Rede Globo), interpretando a canção "Saudade" (Nato Gomes), registrada no LP "MPB 80 - Vol. 2" (Som Livre). Integrou o grupo vocal Cantamor. Participou de vários especiais da Rede Globo, como os de Roberto Carlos e Fábio Jr., além dos infantis "Pirlimpimpim", "Arca de Noé - 2" e "Verde que te quero ver" (Paulinho Tapajós e Edmundo Souto), entre outros, cujas trilhas foram registradas em disco. Ainda na década de 1980, Jane Duboc percorreu o Brasil fazendo shows com Filó, Hélio Delmiro, Tunai, Aécio Flavio, Pery Ribeiro, Márcio Montarroyos, Toninho Horta e Miucha, além de Toquinho, com quem excursionou pelo país com o show "Doce vida", viajou pela Itália e gravou um disco em Milão.

Em 1982, lançou o LP "Jane Duboc", que incluiu sua composição "Eu no sol" (c/ Osvaldo Montenegro) e as canções "Som pra sumir" (Gilberto Gil) e "Água" (Fátima Guedes), entre outras. Ainda nesse ano, participou do "MPB-Shell", classificando a música "Tentação" (Tunai e Sérgio Natureza).

Em 1983, interpretou a faixa "A valsa dos clowns" (Edu Lobo e Chico Buarque) no disco "O Grande Circo Místico".

Em 1985, gravou o LP "Ponto de partida", que contou com a participação de Toquinho.

Em 1986, apresentou-se para um público de 30.000 pessoas no show comemorativo do aniversário de Belo Horizonte (MG), realizado no Parque das Mangabeiras.

Em 1987, lançou o LP "Jane Duboc", com destaque para "Chama da Paixão" (Thomaz Roth e Cido Bianchi) e "Sonhos" (Lincoln Olivetti, Robson Jorge e Mauro Motta), além de sua composição "Minas em mim" (c/ Luca) e canções de Milton Nascimento, Toninho Horta e Tavito, entre outros, com arranjos de César Camargo Mariano, Chiquinho de Morais e Cido Bianchi. O sucesso e o reconhecimento nacional vieram nesse ano com as músicas "Chama da paixão" e "Sonhos", que tiveram grande execução nas emissoras de rádio, o que lhe valeu convites para apresentações em vários programas de televisão, abrindo caminho para sua participação em trilhas de novelas da Rede Globo, como "Fera Radical", com a música "Sonhos" e "Vale Tudo" (Rede Globo), com a música "Besame" (Flávio Venturini e Murilo Antunes).

Em 1988, gravou o LP "Feliz", que incluiu "Como se deixa passar", de sua autoria, além das canções "Só nós dois" (Thomaz Roth e Cido Bianchi), "De corpo inteiro" (Aécio Flávio e Luiz Fernando), "Louco amor" (Claudia Olivetti, Lincoln Olivetti e Robson Jorge), "De corpo inteiro", tema da novela "O Salvador da Pátria" (Rede Globo), e "Vem pra mim", versão de Rosana Hermann para a música "Now and forever". Fez vários shows, inclusive um gravado ao vivo, no Teatro Bandeirantes, que se tornou um especial de Televisão.

Em 1990, estreou, no Ópera Room (SP), o espetáculo "Movie Melodies", interpretando exclusivamente clássicos do cinema norte-americano como "As time goes by" (Herman Hupfeld), "True love" (Cole Porter) e "Bewitched" (Rodgers e Hart), entre outras. Seguiu com o show por várias cidades brasileiras.

Lançou, em 1991, o CD "Além do prazer" e, em 1992, o CD "Brasiliano" (Globo Records/Itália), contendo músicas italianas, e o CD "Movies melodies", pelo qual foi contemplada com o Prêmio Sharp, na categoria de Melhor Cantora. Também em 1991, realizou o show "Beatles Mulher", cantando músicas do quarteto de Liverpool.

Em 1993, lançou o CD "Jane Duboc". Também nesse ano, apresentou-se ao lado de Sílvia Goes e Keko Brandão no Centro Cultural São Paulo, com o show "Tríade", com textos de Paulo Bonfim e releituras, apenas com vocalises, de obras de Enya, Hermeto Paschoal, Vangelis, Edú Lobo e Tom Jobim, entre outros. Ainda em 1993, viajou aos Estados Unidos, onde gravou, com o saxofonista Gerry Mulligan, o CD "Paraíso", com destaque para sua composição "Bordado". O disco foi lançado no ano seguinte.

Em 1995, lançou o CD "Partituras", interpretando exclusivamente canções de Flavio Venturini, como "Sobre o mar" (c/ Alexandre Blasifera) e "Nuvens" (c/ Ronaldo Bastos), além da faixa-título, de sua parceria com o compositor.

Em 1996, inaugurou, com o maestro Roberto Sion, o maior centro de convenções da cidade de Gifu (Japão). O show apresentado nessa ocasião gerou o CD "From Brazil to Japan", que incluiu canções como "Alguém cantando" (Caetano Veloso), "Manhã de Carnaval" (Luiz Bonfá e Antonio Maria) e "Se todos fossem iguais a você" (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), entre outras.

Em 1998, gravou, com Sebastião Tapajós, o CD "Da minha terra", homenageando compositores paraenses.

No ano seguinte, lançou o disco "Clássicas", com Zezé Gonzaga, que registrou canções como "Linda flor (Ai, Ioiô)" (Henrique Vogeler, Luis Peixoto e Marques Porto) e "Sem fantasia" (Chico Buarque), entre outras.

Em 2001, abriu, em sociedade com o marido, Paulo Amorim, a gravadora Jam Music, pela qual lançou discos de vários artistas, como Beth Carvalho, Celso Viáfora e Angela Rô Rô, entre outros, além do filho Jay Vaquer.

Em 2002, lançou o CD "Sweet Lady Jane", contendo as canções "Verão" (Rosa Passos e Fernando de Oliveira), "Por causa de você" (Tom Jobim e Dolores Duran), "Pr'um samba" (Egberto Gismonti), "If it's Magic" (Stevie Wonder), "De alma e corpo" (Ivan Lins e Celso Viáfora), "Blues afins" (Tunai e Sérgio Natureza), "It Might as Well be Spring" (R. Rodgers e Hammerstein), "Lady Jane" (Mick Jagger e Keith Richard), "Pra dizer adeus" (Edu Lobo e Torquato Neto), "Evermore" (Ivan Lins e Will Lee", "Photograph (Fotografia)" (Tom Jobim e Ray Gilbert) e "Don't Ever Go Away (Por Causa de Você)" (Tom Jobim e Ray Gilbert).

Em 2003, o disco "Languidez" (Aycha/1980), foi relançado em CD pelo selo Jam Music, a partir de um vinil da época cedido por um fã, já que as fitas originais do disco foram perdidas numa enchente nos anos 1980.

Ao longo de sua carreira, participou da gravação de mais de cem discos de vários artistas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Hermeto Pascoal, Roberto Sion e Sarah Vaughan.

Além de sua atuação no cenário musical, dedica-se também à literatura, tendo publicado um livro de poemas, "Através das paredes", e dois livros infantis, "Jeguelhinho" e "Bia e Buze", lançados pela editora paraense Cejupe.

Nada Sem Você (Jane Duboc)



Rio de Janeiro/2008.

Jane Duboc e Victor Biglione prestam tributo a Ella Fitzgerald em CD que acabam de lançar.

Peripécias futebolísticas de H. C. Pinheiro.

O Marcos, atual goleiro do Palmeiras, contou que certa vez estava na janela de seu apartamento, quando ainda não jogava futebol, e ia passando dois caras num Monza. Um dirigindo e outro empurrando. Nada do carro pegar. Ele com pena dos dois sujeitos, chamou um amigo e foi dar uma força. Empurraram o Monza. Quando o carro pegou, os sujeitos agradeceram e foram embora. Daí a pouco surge um senhor e pergunta se eles não viram passar um Monza ali na rua. Marcos, sem jeito e com vergonha de dizer que tinha ajudado aos ladrões, respondeu que não.

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Garrincha certa vez veio jogar aqui em Fortaleza, pelo Botafogo. Inclusive, para quem não sabe, chegou a jogar meio tempo pelo Leão. À noite ele estava na porta do hotel e observou que havia dois bares, um próximo do outro. Um repleto de fregueses, o outro totalmente vazio. Aí ele olhou para o Nílton Santos, seu comprade e disse: "vou dar uma mãozinha ao dono daquele outro bar." Se mandou para o bar e quando chegou, os fregueses do bar que estava lotado viram o Garrincha e logo se mudaram para o outro.

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O Paulo Barros, um amigo de infância, foi um dos maiores centro-avantes que já marquei e vi jogar. Não foi profissional porque a "mardita" cachaça acabou com o futebol dele muito cedo. No começo da década de setenta era chamado de Tostãozinho, dada a categoria do cara. Para se ter uma ideia do futebol dele, o Luciano Pacoti era seu reserva num time ali da rua da Cachorra Magra, hoje Marechal Floriano.

Certa vez fomos jogar em Messejana, num campo perto da casa de um tio meu. O Paulo foi para um time e eu para o outro. Ele de centro-avante e eu de beque central, minha velha posição. Num lance o Paulo partiu para cima de mim, eu entrei de uma vez e levei aquele drible, passei direto. Puto de raiva, voltei e fui de novo de uma vez, levei outro. Nisso, parece conta de mentiroso, tomei sete dribles o último cai sentado. O Paulo escolheu o canto e fez o gol como quis.

Lá na Messejana ficou conhecido como o jogador Cão.

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Eu também tive meus dias de glória. Fui jogar pelo Cearezinho contra o Cruzeiro, ambos da Cidade dos Funcionários. O Cearazinho tinha seu campo onde hoje é o prédio do IPEC, que o Tasso deu. O Cruzeiro ficava lá perto do Iprede.

Jogo vai, jogo vem. O Paulo, não sei porque foi apitar. Num lance, o jogador do Cruzeiro partiu para cima de mim com a bola dominada e eu o desarmei facilmente. Aí outro jogador do time deles comentou: "Pra passar por este zangueiro é preciso ter muita elegância." E fiquei sendo chamado de Elegante no nosso time.



Henrique César Pinheiro

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Um pouco sobre Mario Quintana...





Mario de Miranda Quintana nasceu prematuramente na noite de 30 de julho de 1906, na cidade de Alegrete, situada na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. Seus pais, o farmacêutico Celso de Oliveira Quintana e Virgínia de Miranda Quintana, ensinaram ao poeta aquilo que seria uma de suas maiores formas de expressão - a escrita. Coincidentemente, isso ocorreu pelas páginas do jornal Correio do Povo, onde, no futuro, trabalharia por muitos anos de sua vida.




O poeta também inicia na infância o aprendizado da língua francesa, idioma muito usado em sua casa. Em 1915 ainda estuda em Alegrete e conclui o curso primário, na escola do português Antônio Cabral Beirão. Aos 13 anos, em 1919, vai estudar em regime de internato no Colégio Militar de Porto Alegre. É quando começa a traçar suas primeiras linhas e publica seus primeiros trabalhos na revista Hyloea, da Sociedade Cívica e Literária dos Alunos do Colégio Militar.



Cinco anos depois sai da escola e vai trabalhar como caixeiro (atendente) na Livraria do Globo, contrariando seu pai, que queria o filho doutor. Mas Mario permanece por lá nos três meses seguintes. Aos 17 anos publica um soneto em jornal de Alegrete, com o pseudônimo JB. O poema era tão bom que seu Celso queria contar que era pai do poeta. Mas quem era JB? Mario, então, não perde a chance de lembrar ao pai que ele não gostava de poesia e se diverte com isso.



Em 1925 retorna a Alegrete e passa a trabalhar na farmácia de propriedade de seu pai. Nos dois anos seguintes a tristeza marca a vida do jovem Mario: a perda dos pais. Primeiro sua mãe, em 1926, e no ano seguinte, seu pai. Mas a alegria também não estava ausente e se mostra na premiação do concurso de contos do jornal Diário de Notícias de Porto Alegre com A Sétima Passagem e na publicação de um de seus poemas na revista carioca Para Todos, de Alvaro Moreyra.



Corre o ano de 1929 e Mario já está com 23 anos quando vai para a redação do jornal O Estado do Rio Grande traduzir telegramas e redigir uma seção chamada O Jornal dos Jornais. O veículo era comandado por Raul Pilla, mais tarde considerado por Quintana como seu melhor patrão.



A Revista do Globo e o Correio do Povo publicam seus versos em 1930, ano em que eclode o movimento liderado por Getúlio Vargas e O Estado do Rio Grande é fechado. Quintana parte para o Rio de Janeiro e torna-se voluntário do 7º Batalhão de Caçadores de Porto Alegre. Seis meses depois retorna à capital gaúcha e reinicia seu trabalho na redação de O Estado do Rio Grande.



Em 1934 a Editora Globo lança a primeira tradução de Mario. Trata-se de uma obra de Giovanni Papini, intitulada Palavras e Sangue. A partir daí, segue-se uma série de obras francesas traduzidas para a Editora Globo. O poeta é responsável pelas primeiras traduções no Brasil de obras de autores do quilate de Voltaire, Virginia Woolf, Charles Morgan, Marcel Proust, entre outros.



Dois anos depois ele decide deixar a Editora Globo e transferir-se para a Livraria do Globo, onde vai trabalhar com Erico Verissimo, que lembra de Quintana justamente pela fluência na língua francesa. É por esta época que seus textos publicados na revista Ibirapuitan chegam ao conhecimento de Monteiro Lobato, que pede ao poeta gaúcho uma nova obra. Quintana escreve, então, Espelho Mágico, que só é publicado em 1951, com prefácio de Lobato.



Na década de 40, Quintana é alvo de elogios dos maiores intelectuais da época e recebe uma indicação para a Academia Brasileira de Letras, que nunca se concretizou. Sobre isso ele compõe, com seu afamado bom humor, o conhecido Poeminha do Contra.



Como colaborador permanente do Correio do Povo, Mario Quintana publica semanalmente Do Caderno H, que, conforme ele mesmo, se chamava assim, porque era feito na última hora, na hora “H”. A publicação dura, com breves interrupções, até 1984. É desta época também o lançamento de A Rua dos Cataventos, que passa a ser utilizado como livro escolar.



Em agosto de 1966 o poeta é homenageado na Academia Brasileira de Letras pelos ilustres Manuel Bandeira e Augusto Meyer. Neste mesmo ano sua obra Antologia Poética recebe o Prêmio Fernando Chinaglia de melhor livro do ano. No ano seguinte, vem o título de Cidadão Honorário de Porto Alegre. Esta homenagem, concedida em 1967, e uma placa de bronze eternizada na praça principal de sua terra natal, Alegrete, no ano seguinte, sempre eram citadas por Mario como motivo de orgulho. Nove anos depois, recebe a maior condecoração que o Governo do Rio Grande do Sul concede a pessoas que se destacam: a medalha Negrinho do Pastoreio.



A década de 80 traz diversas honrarias ao poeta. Primeiro veio o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto da obra. Mais tarde, em 1981, a reverência veio pela Câmara de Indústria, Comércio, Agropecuária e Serviços de Passo Fundo, durante a Jornada de Literatura Sul-rio-grandense, de Passo Fundo.



Em 1982, outra importante homenagem distingue o poeta. É o título de Doutor Honoris Causa, concedido pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Oito anos depois, outras duas universidades, a Unicamp, de Campinas (SP), e a Universidade Federal do Rio de Janeiro concedem o mesmo tipo de honraria a Mario Quintana. Mas talvez a mais importante tenha vindo em 1983, quando o Hotel Majestic, onde o poeta morou de 1968 a 1980, passa a chamar-se Casa de Cultura Mario Quintana. A proposta do então deputado Ruy Carlos Ostermann obteve a aprovação unânime da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul.



Ao comemorar os 80 anos de Mario Quintana, em 1986, a Editora Globo lança a coletânea 80 Anos de Poesia. Três anos depois, ele é eleito o Príncipe dos Poetas Brasileiros, pela Academia Nilopolitana de Letras, Centro de Memórias e Dados de Nilópolis e pelo jornal carioca A Voz. Em 1992, A Rua dos Cataventos tem uma edição comemorativa aos 50 anos de sua primeira publicação, patrocinada pela Ufrgs. E, mesmo com toda a proverbial timidez, as homenagens ao poeta não cessam até e depois de sua morte, aos 88 anos, em 5 de maio de 1994.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Uma brasileira que cantou com os Beatles.


     Lizzie sentada sobre o Rolls Royce de Jonh Lennon.



Lizzie Bravo fez backing vocals na faixa 'Across the universe', de 68.
Carioca dava plantão na porta de Abbey Road e pretende lançar livro.

Lizzie Bravo, 58, foi retratada como “a esperança de óculos” na canção “Casa no campo” de Zé Rodrix, famosa na voz de Elis Regina e já trabalhou com grandes nomes da música brasileira, como Milton Nascimento, Zé Ramalho e Joyce. Mas, talvez, a sua maior façanha tenha sido a de dividir o microfone com John Lennon e Paul McCartney na gravação de “Across the universe”, quando tinha apenas 16 anos, nos lendários estúdios da EMI em Abbey Road, Londres.

A faixa foi incluída na coletânea “No one’s gonna change our world”, no álbum “Rarities” e no segundo volume do disco “Past Masters”, dos Beatles -- outra versão da música aparece no álbum "Let it be", lançado em 1970. Em 4 de fevereiro de 2008, exatamente 40 anos depois, a Nasa lançou a música ao espaço, pela primeira vez na história.

A então adolescente carioca não imaginava o quanto a sua vida mudaria depois de uma sessão do filme “A hard day’s night – Os reis do iê iê iê”. Ao sair do cinema, ela já estava contaminada pela beatlemania. Com “Help!”, segundo longa estrelado pelos Beatles, não foi diferente. Em vez de se contentar com as fotos dos Fab Four nas páginas das revistas, a garota pediu aos pais uma viagem de presente de 15 anos e foi para Londres em fevereiro de 1967, sabendo que não voltaria tão cedo.

“As pessoas até hoje não acreditam que você podia chegar perto deles”, conta Lizzie, que fazia parte de um grupo de fãs que frequentavam diariamente a porta do estúdio da EMI em Abbey Road - cenário que acabou eternizado na capa do álbum homônimo e derradeiro dos Beatles, lançado há 40 anos, em 26 de setembro de 1969.

“A gente batia papo, às vezes uns mais longos que os outros. O Paul um dia me perguntou: ‘como é que você pode ser do Brasil se você tem um sotaque de Oxford?’ Eu só tinha amigos ingleses lá.”

Procura-se um agudo

Hoje, Lizzie lembra detalhes de quando McCartney reparou que ela tinha cortado o cabelo, ou quando começou a usar óculos iguais aos de John. “Era um convívio diário”, diz. A relação foi sendo construída à base de bom comportamento até que, em fevereiro de 1968, Lizzie e as amigas estavam esperando na entrada dos estúdios no momento em que Paul saiu da sala e perguntou se alguém ali conseguiria sustentar uma nota aguda. A jovem, que sempre havia cantado no coral do colégio, se candidatou, levando com ela a inglesa Gayleen Pease.

No estúdio estavam os quatro Beatles, o produtor George Martin, Mal Evans, Neil Aspinal, além do técnico de som e seu ajudante. Eles precisavam de uma voz aguda para um coro de “Across the universe”. “Foi bom nós sermos calmas, porque senão nem teríamos gravado, eles teriam mandado a gente embora do estúdio”, lembra Lizzie, que passou cerca de duas horas e meia ali e não recebeu nenhum pagamento pelo empréstimo da voz.

“Ficou um clima legal, foi gostoso. Não tirei a minha câmera da bolsa para fotografar, não pedi autógrafo, todas aquelas coisas que eu fazia no dia-a-dia, porque eu tive consciência de que aquele era um momento único. Eu estava participando de uma gravação com os quatro Beatles ao mesmo tempo, com todo mundo tocando ao vivo”, conta.

Uma das características do quarteto de Liverpool, segundo Lizzie, era o humor. “Eles faziam muitas brincadeiras, muitas piadas. Durante a gravação, de vez em quando alguém falava uma frase e todo mundo começava a tocar. Então aquela frase, por pior que fosse, de repente virava um rock”, lembra.

“Eu tinha 16 anos e fiquei desbundada, mas a ficha só caiu muito tempo depois. Eu cantei no mesmo microfone com o John Lennon, depois com o Paul McCartney", diz a fã, que trabalhou como arrumadeira de hotel, entre outras atividades, para se sustentar durante a temporada em que passou na capital inglesa. "Ter saído do Leme, onde eu morava, e ir para Londres cantar com um ídolo, é surreal. Quando ouvi a voz da gente na versão remasterizada [lançada pela EMI no último dia 9], fiquei toda arrepiada. Não ouço Beatles toda hora, mas quando escuto as músicas passa um filminho na cabeça.”

As 'largadas' da Apple

Dependendo da disponibilidade dos Fab Four, os temas das conversas com as meninas variavam. “Quando Paul lia coisas sobre o Brasil no jornal, ele vinha me contar: ‘tem enchente no Rio de Janeiro’.” Os Beatles, aliás, ganharam de Lizzie revistas sobre o Brasil e LPs de bossa nova, como um exemplar de “Os Sambeatles”, do Manfredo Fest Trio. E, mesmo quando não rolava muito papo com os músicos, a visita a Abbey Road sempre rendia um registro no diário das adolescentes. “Os Rolling Stones costumavam passar lá antes de sair com os Beatles para a 'night'. Vi até o Brian Jones [que morreu em julho de 1969].”

Em troca de tanta dedicação, as fãs receberam do guitarrista George Harrison a canção “Apple Scruffs”, que foi incluída no disco solo “All things must pass”. Na faixa, o músico canta e toca acompanhado por Bob Dylan na gaita. A letra diz: “Vejo vocês aí sentadas / Quem passa olha espantado / Como se vocês não tivessem pra onde ir / Mas eles não sabem nada sobre as Apple Scruffs / Vocês estão aí há anos / Vendo meus sorrisos e tocando minhas lágrimas / Faz tanto, tanto tempo / E eu sempre penso em vocês, minhas Apple Scruffs / Apple Scruffs, Apple Scruffs / Como eu amo vocês, como eu amo vocês”.

Lizzie explica o significado da homenagem. “As secretárias da Apple eram muito chiques, todas transadas, e a gente era muito criança e não tinha grana para se vestir daquele jeito. Era bem evidente que elas trabalhavam do lado de dentro e a gente ficava do lado de fora”, conta Lizzie. “Fã é sempre visto de uma forma meio pejorativa e essa música foi uma demonstração de muito carinho. Eles sempre foram muito fofos com a gente.”

Gotinha de Brasil

“É interessante pensar que existe um pouco da Penha, onde eu nasci, no catálogo dos Beatles”, observa. “É uma gotinha de Brasil que está lá. Achei significativo termos ido para o espaço - os Beatles não foram sozinhos, eles levaram duas fãs.”

Bota fã nisso: só de Lennon, o seu favorito, Lizzie possui 16 autógrafos. “Fui criticada por certos fãs por ter vendido algumas coisas da minha coleção, mas prefiro me lembrar do momento.”

Para Lizzie, a separação do grupo, alguns anos depois, não surpreendeu. “O clima entre eles foi piorando até a dissolução, mas eu ainda peguei uma grande fase, em que eles estavam muito juntos. Depois a gente começou a perceber algo diferente, era óbvio. Eles passaram a não ir mais juntos ao estúdio, a gravar separados, o clima mudou. Todo mundo estava casado, com filho, a vida muda. Foi uma conjunção de fatores. Acabou sendo positivo, porque eles terminaram no auge.”

Boa parte das memórias de Lizzie Bravo devem sair em um livro, ainda sem data de lançamento, com mais de 100 fotos inéditas e trechos de seus diários de adolescente. “São coisas muito singelas mesmo, de meninas e seus ídolos. Quando olho para as fotos, penso que elas não são só minhas.”